AUTOMAÇÃO DE BIBLIOTECAS: Análise da Produção
via Biblioinfo (1986-1994)
Cíntia de Azevedo Lourenço
Resumo
O presente trabalho consiste em uma avaliação da produção
científica em automação de bibliotecas nos últimos
7 anos. Através de um levantamento desta produção a
partir da base de dados BIBLIOINFO, tente traçar um perfil desta produção
a nível nacional. Os dados tabulados foram analisados com base nas
seguintes variáveis: tipo de publicação, periódicos
mais produtivos em automação de bibliotecas, ano de maior produção,
tipo de autoria, sexo dos pesquisadores da área e temas mais abordados.
Identifica, assim, a necessidade de uma abordagem mais científica
do tema, pois grande parte da produção concentra-se em relatos
de experiência, que pouco contribuem para o desenvolvimento da automação
de bibliotecas no Brasil.
1. INTRODUÇÃO
A informática, atualmente, tornou-se uma área de grande abrangência.
Todas as áreas da economia mundial, vem se mudando e adaptando a esta
nova tendência. A Biblioteconomia não poderia fica. de fora,
pois esta ciência muito pode contribuir para o desenvolvimento, otimização
e incremento das técnicas biblioteconômicas, possibilitando
o aumento em quantidade e qualidade dos serviços prestados à
sociedade pela comunidade bibliotecária.
Frente a esta realidade, muitos pesquisadores da área têm se
dedicado a um estudo mais aprofundado desta fusão Biblioteconomia
X Informática. Mas é necessário verificar se a produção
cientifica em automação de bibliotecas vêm aumentando,
ou se mantêm constante?
Produção científica é toda produção
documental, independente do suporte desta - papel, ou meio magnético
- sobre um determinado assunto de interesse de uma comunidade científica
específica, que contribua para o desenvolvimento da ciência,
e para a abertura de novos horizontes de pesquisa.
A produção cientifica em Biblioteconomia, ao longo dos anos
tem se dedicado à várias problemáticas da área,
dentre os quais está a questão da automação de
bibliotecas e sistemas de informação, foco deste trabalho.
Em relação a produção em Informática aplicada
e Biblioteconomia, área identificada como Informática Documentária
- termo usado pelo Tesouro em Ciência da Informação do
IBICT, e que designa documentos que tratam de uma forma geral as aplicações
de informática às atividades de informação (
Ohira, 1994: 370 ) - tem-se sentido ser esta insuficiente em relação
às tendências do mercado, não tanto em quantidade, mas
talvez em qualidade.
Qualidade no sentido de ser suficiente para responder às perguntas
e sanar as dificuldades dos bibliotecários quanto à informatização,
ou seja, não se quer discutir a qualidade dos conteúdos destes
trabalhos quanto à sua validade, mas sim quanto a sua utilidade para
o desenvolvimento da Biblioteconomia como ciência, em termos de avanço
tecnológico
No que se refere à compilação desta produção
científica em Informática Documentária em bibliografias
especializadas, Ohira (1994: 369) apresenta uma cronologia, que é
a seguinte:
• 1811 a 1980: a produção em
Informática Documentária é compilada na Bibliografia
Brasileira de Documentação.
• 1980 a 1983: esta produção é compilada
na Bibliografia Brasileira de Ciência da Informação,
v.6.
• 1983 a 1986: a compilação deste período
é publicada da Bibliografia Brasileira de Ciência da Informação,
v.7.
• 1968 a 1981: a produção em Informática
Documentária é compilada pela primeira vez em uma bibliografia
especializada - a Bibliografia Brasileira sobre Automação de
Serviços Bibliográficos, uma iniciativa de Nocetti (1982).
• 1980 a 1986: dando continuidade à iniciativa de
Nocetti, Knoll (1986), compila esta produção na Bibliografia
Brasileira sobre Automação em Bibliotecas e Sistemas de Informação.
• 1986 a 1994: Ohira (1994), dá prosseguimento à
obra dos autores anteriores, com a publicação do BIBLIOINFO
- Base de Dados sobre Automação em Bibliotecas (Informática
Documentária).
1.1. Objetivos
O objetivo geral deste estudo será levantar a situação
da produção científica nacional em automação
de biblioteca, traçando um perfil desta produção, a
partir da Base de Dados BIBLIOINFO.
Terá, por conseguinte, os seguintes objetivos específicos:
• Constatar, através da curva da produtividade no
período de 1986 à 1994, o crescimento ou não da produção
científica em automação de bibliotecas, em termos de
quantidade.
• Identificar entre os periódicos especializados
nacionais da área biblioteconomia, os que mais publicam sobre automação
em bibliotecas.
• Conhecer qual o tipo de publicação mais
usado pela comunidade biblioteconômica para a divulgação
de sua produção científica.
• Verificar se os pesquisadores em automação
de bibliotecas, publicam geralmente em grupo ou individualmente.
• Identificar, quanto ao sexo destes pesquisadores, o que
mais produz em automação de bibliotecas.
• Levantar quais os temas mais abordados na produção
científica em automação de bibliotecas.
2. MÉTODO
2.1. Material
O presente trabalho terá como base de análise, a produção
científica em automação de bibliotecas, tanto em períodos
especializados, quanto em anais de eventos, bibliografias, relatórios,
entre outros, via dados contidos na Base de Dados sobre Automação
de Bibliotecas - BIBLIOINFO, compilado por Ohira (1994), Bibliotecária
e Docente da Universidade do Estado de Santa Catarina.
Esta base de dados foi desenvolvida utilizar o software MicroISIS e a descrição
de seus elementos foi definida pe± formato IBICT ( Ohira, 1994:370).
Esta análise irá se restringir à base de dados BIBLIOINFO,
com o objetivo de dar continuidade às iniciativas anteriores e subsidiar
as atividades didáticas das disciplinas automação em
Bibliotecas e Fontes de Informação Especializada, ministradas
no curso de graduação em Biblioteconomia da UDESC (Ohira, 1994:
369) - por conter as publicações em Automação
de Bibliotecas do período de 1986 até 1994. Além de
abranger os artigos publicados nas principais revistas especializadas da
área do Brasil, contém também, com uma ótima
margem de abrangência, traçamos publicadas em anais de eventos,
material este de difícil acesso, para a efetivação desta
pesquisa. Esta delimitação deu-se também com o objetivo
de limitar o campo de estudo.
2.2. Procedimento
A base de dados estudada foi examinada, cuidadosamente, registro por registro,
percorrendo-se esta em todo o seu conteúdo. Neste exame, os dados
sobre a produção científica foram quantificados quanto
aos seguintes aspectos: suporte bibliográfico, ano de publicação,
autoridade e temas principais. Convém ressaltar que para cada um destes
aspectos, foram considerados sub-aspectos específicos quando da tabulação.
Somente quanto aos temas principais, optou-se pelo não desmembramento
em subtemas, devido ao fato de que a tabulação deste aspecto
se apresentaria por demais exaustiva.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As freqüências observadas em cada aspecto, foram tabuladas, verificando-se
a demonstração de todas as variáveis possíveis
de situação que estas poderiam representar.
No aspecto suporte bibliográfico, foram tabuladas as freqüências
observadas em cada tipo de publicação específico, e
as freqüências verificadas em publicações periódicas
específicas. Quanto ao aspecto ano de publicação, tabulou-se
as freqüências que denotariam a curva de produtividade no intervalo
temporal estudado. Foram tabuladas também, as freqüências
de produtividade anuais: de cada tipo de publicação, e em cada
periódico nacional da área. Para o aspecto autoridade, tabulou-se
apenas as freqüências relacionadas a quantidade de pesquisadores
responsáveis por publicação, e dentre pesquisadores,
a variável sexo. No aspecto temas principais, procurou-se agrupar
os temas específicos, em temas macros, para evitar uma exaustividade
que seria pouco produtiva para este estudo. Assuntos que não se encaixaram
nestes temas macros, e também tiveram uma freqüência muito
baixa, foram agrupados em outros assuntos, dentre os quais estão:
perfil profissional frente a informática, marketing de serviços
automatizados, redes de intercâmbio, aspectos filosóficos da
automação, entre outros.
É mister ressaltar, que quanto à tabulação de
autoridade, não se verificou repetições de autores,
mas tão somente aos aspectos de interesse deste estudo.
Trabalhos publicados em mais de um suporte bibliográfico, foram quantificados
mais de uma vez. Quanto ao tema tratado nestes trabalhos, alguns deles foram
quantificados em mais de um tema, por tratarem da automação
de bibliotecas, em mais de um enfoque ao mesmo tempo.
Assim, quer-se ressaltar, a possibiblidade dos resultados aqui apresentados
serem outros, dependendo do enfoque que se considere quando da quantificação
e tabulação dos dados. Este trabalho representa apenas uma
das várias análises que poderão ser realizadas sobre
a produção científica em automação de
bibliotecas, usando a mesma base.
Trabalhos de pesquisa podem ser publicados nos mais variados suportes. Atualmente,
a publicação em artigos em periódicos tem sido preferida
devido ao imediatismo de sua divulgação e da especificidade
dos temas tratados, que dispensa a leitura de vastas literaturas, para se
chegar ao que realmente interessa ao leitor.
Em Biblioteconomia, em especial no tema automação de bibliotecas,
verificou-se esta preferência também, mas precedida pela publicação
em anais de eventos realizados pela comunidade biblioteconômica.
Os dados quantificados mostram que a maior parte da produção
científica, num total de 397 referências, sobre o tema estudado,
encontra-se publicada em anais (207) de eventos - congressos, seminários,
encontros, entre outros. Em segundo lugar verifica-se a preferência
por publicação em periódicos especializados (160), em
detrimento dos outros tipos de publicações.
Convém esclarecer que outros tipos de publicações como
relatórios, trabalhos, teses, monografias, manuais, bibliografias,
catálogos, entre outros, são publicações de acesso
bem mais difícil do que os anais, podendo ser facilmente não
indexados por uma base de dados, pois sua divulgação na maioria
das vezes, se restringe ao âmbito das instituições que
os publicam, com exceção apenas das bibliografias, que tem
uma divulgação signifícante, mas sua publicação
geralmente não é feita anualmente.
A significância estatística foi verificada através do
teste de homogeneidade de distribuição, sendo n.g. 1 .=3, n.sig.=0,05
e X2C=7,81. O resultado obtido mostra que é sígnificante a
concentração de publicação em anais, onde X2o=
117,81, e em periódicos, onde X2o=37,58, estando ambos acima do esperado.
Contudo estes resultados também denotam uma baixa concentração
significante na publicação de livros (N=10), onde X2o=80,01
e também em Outras publicações (N=20), onde X2o=63,04,
ambos também com frequência de ocorrência muito abaixo
do esperado.
A única ressalva que resta a ser feita é que, sendo os anais,
de divulgação limitada, torna-se difícil o acesso ao
profissional de uma grande parte da produção científica
em automação de bibliotecas. Outro fator a se considerar é
que apesar da produção se mostrar alta, é preciso lembrar
que a publicação em anais irá se concentrar nos anos
que houverem eventos, como será verificado no decorrer deste trabalho,
além do que a maior parte constitui trabalho não concluído
e sim, pré-publicações do documento formal, constituindo
meios de comunicação informal (Población, 1989).
No caso da biblioteconomia, a publicação de livros não
se mostra como uma preferência da comunidade biblioteconômica,
em toda a sua gama de temas, e não poderia ser diferente, principalmente
quanto à automação que é uma área em constante
mudança tecnológica, tornando documentos rapidamente obsoletos.
Porcentagem
A Fig. 1 apresenta a produtividade anual em cada tipo de publicação
no período estudado. Pela distribuição das freqüências
tabuladas no período estudado em cada tipo de publicação,
percebe-se claramente que os artigos de periódicos e os trabalhos
publicados em anais representam a grande maioria da produção
científica em automação de bibliotecas, oscilando ano
a ano a predominância de cada um deles.
Em Outros tipos de materiais, já exemplificados anteriormente, na
maioria das vezes restringem-se a publicações internas. Os
anos de maior publicação destes materiais identificados da
Fig. 1, podem não significar anos de maior produção,
mas sim, anos de maior "vazamento", ou seja, divulgação externa
destes documentos.
Aqui, a aplicação do teste de homogeneidade, considerando-se
n.g. 1 .=24, n.sig.=0,05 e X2C=55,8, nos permite concluir houve concentração
significante de publicações apenas nos anos de 1986, onde X20=
114,15 e 1994 onde X2o=l 13,41, ambos com concentração acima
do esperado, sendo que os anais representam nestes dois anos, a maior concentração
de publicações sendo X2o=80,05 e X2O=85,33 respectivamente.
Outro ponto a se levar em consideração é que a Biblioteconomia,
é uma área com poucos títulos de periódicos especializados
em nível nacional, embora sejam de qualidade apreciável, fato
que contribui para a decisão de tabulação dos dados
referentes à automação de bibliotecas, especificando
cada um destes periódicos.
Os dados tabulados neste aspecto, mostraram que na área de automação
de bibliotecas, dentre as 160 referências localizadas sobre o tema
em periódicos, verificou-se uma maior concentração destas
na revista Ciência da Informação (59), publicada pelo
IBICT. Em seguida verificou-se também uma concentração
de referências sobre o tema na Revista de Biblioteconomia de Brasília
(55), publicada pela Universidade de Brasília - UnB.
Porcentagem
Os outros periódicos, podem ser ordenados na seguinte seqüência,
quanto à concentração do tema estudado neste trabalho:
Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação (20),
Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG (9), Transinformação
(8) e Outros periódicos (9), dentre os quais o Boletim ABDF: Nova
Série e revistas de outras áreas. Pelos dados da Fig.2, verifica-se
que a Revista de Biblioteconomia de Brasília, mostra uma oscilação
muito diferenciada. Ao mesmo tempo que, em 1990 publicou um grande número
de trabalhos na área de automação também é
visível nas demais revistas. Isto é esperado já que
se trata de periódicos com temas em aberto.
Para verificar se nas freqüências do tema automação
de bibliotecas em cada periódico nacional há alguma tendência
estatisticamente significante, foi aplicado e teste de homogeneidade, sendo
n.g.l.=5, n.sig.=0,05 e X2 =11,1. O resultado obtido identificou uma significância
de concentração apenas nas freqüências dos periódicos
Ciência da Informação, onde X2o=41,88 e Revista de Biblioteconomia
de Brasília, onde X2o=32,34, ambas acima do esperado. Os demais, mantiveram-se
no nível esperado.
A aplicação do teste de homogeneidade, no que se refere ao
periódico que mais apresentou textos sobre automação
de bibliotecas considerando-se o período estudado como um todo, onde
n.g. 1.=40, n.sig.=0,05 e X2 =36,4, ob-teve-se como resultado que apenas
no ano de 1990, houve uma produção sobre o assunto estudado
com concentração significante, com X2 =88,00, situando-se bem
acima do esperado. Neste ano a concentração mais significante
se deu no periódico Revista de Biblioteconomia de Brasília
(X2o=72,20).
Nos demais anos, observou-se ocorrências muito próximas do esperado,
no que se refere a publicações em periódicos especializados
da área de Biblioteconomia, posto que são dedicados à
todos os temas da área.
Pelo resultado expresso na Fig. 3, o ano de maior concentração
de produtividade científica sobre o tema abordado, que no periódico
estudado foi de 267 trabalhos, foi o ano de 1986 (80). Nos anos seguintes,
notou-se uma variação não linear: 1987 (42), 1988 (17),
1989 (42), 1990 (65), 1991 (40), 1992 (48), 1993 (7), e 1994 (48).
Um ponto importante a ser destacado é a introdução do
MicroISIS, software desenvolvido pela Unesco, e distribuído no Brasil
pelo IBICT, por volta de 1980.
Assim, a alta produção em 1986, pode ter se originado da explosão
das primeiras experiências na utilização do MicroISIS,
software que por ser praticamente gratuito, viabilizou os primeiros avanços
nesta área, situação que culminou com a criação
do Grupo de Usuários do MicroISIS a partir do II Seminário
Catarinense de Biblioteconomia e Informação, realizado em 1988
(Ohira, 1992:233).
Passada essa euforia inicial, que a produção científica
biblioteconômica, volt -5se a enfocar outros assuntos. Ou seja, não
enfocasse somente a automação em detrimento de outras linhas
de pesquisas existentes, e tão importantes quanto esta, afinal a automação
é um meio e não o fim da Biblioteconômica.
Porcentagem
Outro fato que deverá ser levado em consideração,
é que na realidade nacional, muitas revistas especializadas tem suas
publicações afetadas por variáveis econômicas,
que contribuem para o atraso e até mesmo a falta de publicações
regulares. Assim, os resultados desta análise podem ser considerados
satisfatórios dentro das possibilidades nacionais.
A verificação das freqüências observadas quanto
às suas tendências estatisticamente significantes, foi realizada
com a aplicação do teste de homogeneidade de distribuição,
sendo n.g.l.=8, n.sig.=0,05 e X2C=15,5. Assim, no ano de 1986 foi obtido
X2O=89,68, podendo se concluir que houve uma concentração significante
neste ano em questão bem superior ao esperado. Observou-se também
que no ano de 1990 (X2O=44,68) teve-se uma concentração superior
ao esperado.
Quanto às tabulações referentes aos aspectos de autoria,
verificou-se uma tendência dos pesquisadores em biblioteconomia e ciência
da informação, na publicação de artigos e trabalhos
individuais. Das 397 referências tabuladas a maior concentração
verificada foi em trabalhos de autoria única (220). Também
apresentaram um bom nível de concentração trabalhos
de autoria em dupla (87) e de autoria em trio (50). Autorias em grupos maiores,
não foram comuns na comunidade científica biblioteconômica
para o tema estudado (Fig. 4).
Porcentagem
A aplicação do teste de homogeneidade, onde n.g.l.=-7, n.sig.=0,05
e X2 =14,1, nos permite concluir que significantemente houve uma concentração
de trabalhos de autoria individual, onde X2o=596,75. Em níveis de
concentração menores mas também significantes por sua
raridade, encontram-se os trabalhos com Mais de Cinco Autores (X2o=45,08),
Sem autoria (X2o=41,32), com Cinco Autores (X2O=41,32) e Autores Institucionais
(X2o=29,46), todos com concentração muito abaixo do esperado
estatisticamente.
Ainda quanto à questão da autoria de trabalhos, foi observado
que dentro de uma freqüência geral de 628 pesquisadores tabulados,
a uma concentração de publicações científicas
em automação de bibliotecas entre os pesquisadores do sexo
feminino (443).
Como em Biblioteconomia a porcentagem de homens é de aproximadamente
de 10%, como mostra a pesquisa realizada por Oliveira (1983), onde em uma
amostra de 311 profissionais, 278 eram do sexo feminino e apenas 33 constituíam
a população biblioteconômica masculina, verifica-se que
os poucos homens existentes na comunidade biblioteconômica, aparentemente,
são altamente produtivos, pois em termos de produtividade, representam
quase 30% da produção científica em automação,
entretanto cabem análises mais específicas.
Com o teste de homogeneidade, onde n.g.l.=l, n.sig.=0,05 e X2C=3,84, foi
obtido um resultado de X2o=105,98 sendo que significantemente a produção
feminina foi superior (X2o=52,99) e acima do esperado, enquanto que a masculina
esteve aquém (X2o=52,99).
Quanto aos temas mais abordados, verificou-se que, de um total de 750 freqüências
tabuladas, a maior concentração de trabalhos trata o tema Implantação
de Sistemas Automatizados (152), seguido por Bancos e Bases de Dados (142),
ficando os demais temas relacionados com freqüências bem mais
baixas, como pode ser observado na Fig. 5.
Convém ressaltar que um mesmo trabalho foi tabulado em diferentes
assuntos, o que demonstra uma situação comparativa preocupante:
os trabalhos que versam sobre Implantação de Sistemas Automatizados,
que deveriam em sua maioria centrar-se nas técnicas administrativas
adotadas para a automação de uma determinada biblioteca, não
o fazem. A produção ocupa-se mais em descrever softwares, e
listar os serviços que estão sendo automatizados, do que fornecer
embasamento teórico sobre o planejamento destes sistemas automatizados,
ou dados de pesquisa. Os dados mostram uma freqüência bem inferior
em planejamento em comparação ao tema Implantação
de Sistemas Automatizados.
Porcentagem
Para que os bibliotecários possam dominar esta nova tecnologia emergente,
são necessárias mais informações administrativas
e operacionais, do que saber que um outro bibliotecário usa tal software
e vai automatizar tais e tais funções em detrimento de outras.
A Fig. 5 mostra claramente esta defasagem.
Para a verificação de tendências estatisticamente significantes,
o teste de homogeneidade foi aplicado, sendo n.g.l.=8, n.sig.=0,05 e X2C=15,5.
Os resultados obtidos (X2o=228,63) identificaram alta concentração
significante nos temas Implantação de Sistemas Automatizados
(X2O=57,36) e Bancos e Bases de Dados (X2O=41,94); e muito baixa em bibliografias
(X2o=57,36) e Ensino da Informática nos Cursos de Biblioteconomia
(X2O=33,84), onde verificou-se um nível bem aquém do espera.
Já nos demais temas verificou-se um nível de freqüências
dentro do esperado.
4. CONCLUSÃO
A análise dos resultados obtidos, e a validação destas
freqüências através da aplicação do teste
de associação qui-quadrado, vem confirmar a situação
apontada no início deste estudo, e até mesmo a agrava.
A questão da qualidade em termos de validade é utilidade da
produção científica na área de automação
de bibliotecas, para o desenvolvimento da Biblioteconomia como ciência,
e para o seu avanço tecnológico, se apresenta realmente crítica.
Mesmo em termos quantitativos a produção científica
anual em automação de bibliotecas se mostra insignificante,
principalmente de 1990 para os dias atuais.
A baixa quantidade, seguida pela baixa qualidade em termos de desenvolvimento
da ciência biblioteconômica quanto ao seu avanço tecnológico,
desta produção científica em automação
de bibliotecas, nos mostra um quadro de estagnação da Biblioteconomia
frente ao estudo de novas tecnologias.
Infelizmente ainda, na Biblioteconomia, a produção científica,
na área de automação de bibliotecas, é definida
por projetos institucionais, dos quais os profissionais participam mais por
conseqüência do cargo que ocupam na instituição,
do que por produção científica propriamente dita.
Faz-se necessário uma retomada do tema informática documentária,
mas não com o enfoque dado à ele até hoje. Esta retomada
deverá basear-se em estudos científicos da situação
e não como tinha sido encarada até então - apenas para
a promoção e divulgação de projetos particulares
de instituições e profissionais específicos. É
preciso que este tema seja encarado com a mesma seriedade com que se estuda
a situação e o papel da Biblioteconomia na sociedade, seus
fundamentos teóricos, seus problemas.
Este estudo demonstrou claramente que enquanto a automação
de bibliotecas era "moda" possibilitando um certo marketing pessoal, houve
uma corrida em direção a modernidade. Todos queriam divulgar
seus projetos pessoais, mas não se encarou a automação
cientificamente, fazendo pesquisas das múltiplas variáveis
e situações envolvidas.
Atualmente, frente à nova situação da informática
no Brasil que não é mais vista como um recurso inviável,
o que conseqüentemente diminui a importância de projetos isolados,
houve uma queda na produção científica sobre Automação
de Bibliotecas, principalmente nos periódicos especializados nacionais.
A produção sobre este tema manteve-se restrita nos últimos
anos, aos Anais e Eventos.
Está na hora de trabalhar este assunto mais profundamente, e investir
em estudos mais sofisticados para que estes possam contribuir para o crescimento
da Biblioteconomia como ciência, e principalmente como área
tecnológica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Sociais. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1994. 284p.
KNOLL, Marília Damiani da Costa, Compil. Bibliografia brasileira sobre
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1980/1986. São José dos Campos: INPE, 1986. 96p.
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de serviços bibliotecários, 1968-1981. Brasília: EMBRAPA,
1982. 75p.
OHIRA, Maria de Lourdes Blatt. Automação de bibliotecas: utilização
do MicroISIS. Ciência da Informação, Brasília,
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OHIRA, Maria de Lourdes Blatt. Biblioinfo - base de dados sobre automação
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1994.
OHIRA, Maria Lourdes Blatt, Compil. Base de dados sobre automação
em bibliotecas (informática documentária): 1986-1994 - BIBLIOINFO.
Florianópolis: UDESC, 1994. ldisq. (Acompanha Manual de Instalação
e Uso).
OLIVEIRA, Zita Catarina Prates de. O bibliotecário e sua auto-imagem.
São Paulo: Pioneira; Brasília: INL, 1983. 98p. (Manuais de
Estudo)
POBLACIÓN, Dinah Aguiar. Artigos científicos e Transformação:
pré requisitos para publicação. Transinformação,
Campinas, v.l, n.l, p.51-64, jan./ abr. 1989.
___________
Abstract
This following piece of work consists on an evaluation of the scientifc
production in library automation in the last seven years. Through a survey
about this production from the database BIBLIOINFO, try to conceive a profile
about it in the whole country. The related data were analysed based on the
following variables: kind of publication, kind of authorship, sex of the
field researchers and the most borded themes. So, it identifies the need
of a more scientific approach of the theme, for great part of the production
is focused in experience reports, which are little helpful for the library
automation development in Brazil.
________
Cíntia de Azevedo Lourenço
Mestranda na Pontifícia Universidade Católica de Campinas
Rev. ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis,
v. 2, n.2, p. 51-63, 1997.