AUTOMAÇÃO DE BIBLIOTECAS: Análise da Produção via Biblioinfo (1986-1994)

Cíntia de Azevedo Lourenço

Resumo

O presente trabalho consiste em uma avaliação da produção científica em automação de bibliotecas nos últimos 7 anos. Através de um levantamento desta produção a partir da base de dados BIBLIOINFO, tente traçar um perfil desta produção a nível nacional. Os dados tabulados foram analisados com base nas seguintes variáveis: tipo de publicação, periódicos mais produtivos em automação de bibliotecas, ano de maior produção, tipo de autoria, sexo dos pesquisadores da área e temas mais abordados. Identifica, assim, a necessidade de uma abordagem mais científica do tema, pois grande parte da produção concentra-se em relatos de experiência, que pouco contribuem para o desenvolvimento da automação de bibliotecas no Brasil.

1. INTRODUÇÃO

A informática, atualmente, tornou-se uma área de grande abrangência. Todas as áreas da economia mundial, vem se mudando e adaptando a esta nova tendência. A Biblioteconomia não poderia fica. de fora, pois esta ciência muito pode contribuir para o desenvolvimento, otimização e incremento das técnicas biblioteconômicas, possibilitando o aumento em quantidade e qualidade dos serviços prestados à sociedade pela comunidade bibliotecária.

Frente a esta realidade, muitos pesquisadores da área têm se dedicado a um estudo mais aprofundado desta fusão Biblioteconomia X Informática. Mas é necessário verificar se a produção cientifica em automação de bibliotecas vêm aumentando, ou se mantêm constante?

Produção científica é toda produção documental, independente do suporte desta - papel, ou meio magnético - sobre um determinado assunto de interesse de uma comunidade científica específica, que contribua para o desenvolvimento da ciência, e para a abertura de novos horizontes de pesquisa.

A produção cientifica em Biblioteconomia, ao longo dos anos tem se dedicado à várias problemáticas da área, dentre os quais está a questão da automação de bibliotecas e sistemas de informação, foco deste trabalho.

Em relação a produção em Informática aplicada e Biblioteconomia, área identificada como Informática Documentária - termo usado pelo Tesouro em Ciência da Informação do IBICT, e que designa documentos que tratam de uma forma geral as aplicações de informática às atividades de informação ( Ohira, 1994: 370 ) - tem-se sentido ser esta insuficiente em relação às tendências do mercado, não tanto em quantidade, mas talvez em qualidade.

Qualidade no sentido de ser suficiente para responder às perguntas e sanar as dificuldades dos bibliotecários quanto à informatização, ou seja, não se quer discutir a qualidade dos conteúdos destes trabalhos quanto à sua validade, mas sim quanto a sua utilidade para o desenvolvimento da Biblioteconomia como ciência, em termos de avanço tecnológico

No que se refere à compilação desta produção científica em Informática Documentária em bibliografias especializadas, Ohira (1994: 369) apresenta uma cronologia, que é a seguinte:
•    1811 a 1980: a produção em Informática Documentária é compilada na Bibliografia Brasileira de Documentação.
•    1980 a 1983: esta produção é compilada na Bibliografia Brasileira de Ciência da Informação, v.6.
•    1983 a 1986: a compilação deste período é publicada da Bibliografia Brasileira de Ciência da Informação, v.7.
•    1968 a 1981: a produção em Informática Documentária é compilada pela primeira vez em uma bibliografia especializada - a Bibliografia Brasileira sobre Automação de Serviços Bibliográficos, uma iniciativa de Nocetti (1982).
•    1980 a 1986: dando continuidade à iniciativa de Nocetti, Knoll (1986), compila esta produção na Bibliografia Brasileira sobre Automação em Bibliotecas e Sistemas de Informação.
•    1986 a 1994: Ohira (1994), dá prosseguimento à obra dos autores anteriores, com a publicação do BIBLIOINFO - Base de Dados sobre Automação em Bibliotecas (Informática Documentária).
 

1.1. Objetivos

O objetivo geral deste estudo será levantar a situação da produção científica nacional em automação de biblioteca, traçando um perfil desta produção, a partir da Base de Dados BIBLIOINFO.

Terá, por conseguinte, os seguintes objetivos específicos:
•    Constatar, através da curva da produtividade no período de 1986 à 1994, o crescimento ou não da produção científica em automação de bibliotecas, em termos de quantidade.
•    Identificar entre os periódicos especializados nacionais da área biblioteconomia, os que mais publicam sobre automação em bibliotecas.
•    Conhecer qual o tipo de publicação mais usado pela comunidade biblioteconômica para a divulgação de sua produção científica.
•    Verificar se os pesquisadores em automação de bibliotecas, publicam geralmente em grupo ou individualmente.
•    Identificar, quanto ao sexo destes pesquisadores, o que mais produz em automação de bibliotecas.
•    Levantar quais os temas mais abordados na produção científica em automação de bibliotecas.

2. MÉTODO

2.1. Material

O presente trabalho terá como base de análise, a produção científica em automação de bibliotecas, tanto em períodos especializados, quanto em anais de eventos, bibliografias, relatórios, entre outros, via dados contidos na Base de Dados sobre Automação de Bibliotecas - BIBLIOINFO, compilado por Ohira (1994), Bibliotecária e Docente da Universidade do Estado de Santa Catarina.

Esta base de dados foi desenvolvida utilizar o software MicroISIS e a descrição de seus elementos foi definida pe± formato IBICT ( Ohira, 1994:370).

Esta análise irá se restringir à base de dados BIBLIOINFO, com o objetivo de dar continuidade às iniciativas anteriores e subsidiar as atividades didáticas das disciplinas automação em Bibliotecas e Fontes de Informação Especializada, ministradas no curso de graduação em Biblioteconomia da UDESC (Ohira, 1994: 369) - por conter as publicações em Automação de Bibliotecas do período de 1986 até 1994. Além de abranger os artigos publicados nas principais revistas especializadas da área do Brasil, contém também, com uma ótima margem de abrangência, traçamos publicadas em anais de eventos, material este de difícil acesso, para a efetivação desta pesquisa. Esta delimitação deu-se também com o objetivo de limitar o campo de estudo.

2.2. Procedimento

A base de dados estudada foi examinada, cuidadosamente, registro por registro, percorrendo-se esta em todo o seu conteúdo. Neste exame, os dados sobre a produção científica foram quantificados quanto aos seguintes aspectos: suporte bibliográfico, ano de publicação, autoridade e temas principais. Convém ressaltar que para cada um destes aspectos, foram considerados sub-aspectos específicos quando da tabulação. Somente quanto aos temas principais, optou-se pelo não desmembramento em subtemas, devido ao fato de que a tabulação deste aspecto se apresentaria por demais exaustiva.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

As freqüências observadas em cada aspecto, foram tabuladas, verificando-se a demonstração de todas as variáveis possíveis de situação que estas poderiam representar.

No aspecto suporte bibliográfico, foram tabuladas as freqüências observadas em cada tipo de publicação específico, e as freqüências verificadas em publicações periódicas específicas. Quanto ao aspecto ano de publicação, tabulou-se as freqüências que denotariam a curva de produtividade no intervalo temporal estudado. Foram tabuladas também, as freqüências de produtividade anuais: de cada tipo de publicação, e em cada periódico nacional da área. Para o aspecto autoridade, tabulou-se apenas as freqüências relacionadas a quantidade de pesquisadores responsáveis por publicação, e dentre pesquisadores, a variável sexo. No aspecto temas principais, procurou-se agrupar os temas específicos, em temas macros, para evitar uma exaustividade que seria pouco produtiva para este estudo. Assuntos que não se encaixaram nestes temas macros, e também tiveram uma freqüência muito baixa, foram agrupados em outros assuntos, dentre os quais estão: perfil profissional frente a informática, marketing de serviços automatizados, redes de intercâmbio, aspectos filosóficos da automação, entre outros.

É mister ressaltar, que quanto à tabulação de autoridade, não se verificou repetições de autores, mas tão somente aos aspectos de interesse deste estudo.

Trabalhos publicados em mais de um suporte bibliográfico, foram quantificados mais de uma vez. Quanto ao tema tratado nestes trabalhos, alguns deles foram quantificados em mais de um tema, por tratarem da automação de bibliotecas, em mais de um enfoque ao mesmo tempo.
Assim, quer-se ressaltar, a possibiblidade dos resultados aqui apresentados serem outros, dependendo do enfoque que se considere quando da quantificação e tabulação dos dados. Este trabalho representa apenas uma das várias análises que poderão ser realizadas sobre a produção científica em automação de bibliotecas, usando a mesma base.

Trabalhos de pesquisa podem ser publicados nos mais variados suportes. Atualmente, a publicação em artigos em periódicos tem sido preferida devido ao imediatismo de sua divulgação e da especificidade dos temas tratados, que dispensa a leitura de vastas literaturas, para se chegar ao que realmente interessa ao leitor.

Em Biblioteconomia, em especial no tema automação de bibliotecas, verificou-se esta preferência também, mas precedida pela publicação em anais de eventos realizados pela comunidade biblioteconômica.

Os dados quantificados mostram que a maior parte da produção científica, num total de 397 referências, sobre o tema estudado, encontra-se publicada em anais (207) de eventos - congressos, seminários, encontros, entre outros. Em segundo lugar verifica-se a preferência por publicação em periódicos especializados (160), em detrimento dos outros tipos de publicações.

Convém esclarecer que outros tipos de publicações como relatórios, trabalhos, teses, monografias, manuais, bibliografias, catálogos, entre outros, são publicações de acesso bem mais difícil do que os anais, podendo ser facilmente não indexados por uma base de dados, pois sua divulgação na maioria das vezes, se restringe ao âmbito das instituições que os publicam, com exceção apenas das bibliografias, que tem uma divulgação signifícante, mas sua publicação geralmente não é feita anualmente.

A significância estatística foi verificada através do teste de homogeneidade de distribuição, sendo n.g. 1 .=3, n.sig.=0,05 e X2C=7,81. O resultado obtido mostra que é sígnificante a concentração de publicação em anais, onde X2o= 117,81, e em periódicos, onde X2o=37,58, estando ambos acima do esperado. Contudo estes resultados também denotam uma baixa concentração significante na publicação de livros (N=10), onde X2o=80,01 e também em Outras publicações (N=20), onde X2o=63,04, ambos também com frequência de ocorrência muito abaixo do esperado.

A única ressalva que resta a ser feita é que, sendo os anais, de divulgação limitada, torna-se difícil o acesso ao profissional de uma grande parte da produção científica em automação de bibliotecas. Outro fator a se considerar é que apesar da produção se mostrar alta, é preciso lembrar que a publicação em anais irá se concentrar nos anos que houverem eventos, como será verificado no decorrer deste trabalho, além do que a maior parte constitui trabalho não concluído e sim, pré-publicações do documento formal, constituindo meios de comunicação informal (Población, 1989).

No caso da biblioteconomia, a publicação de livros não se mostra como uma preferência da comunidade biblioteconômica, em toda a sua gama de temas, e não poderia ser diferente, principalmente quanto à automação que é uma área em constante mudança tecnológica, tornando documentos rapidamente obsoletos.
 
Porcentagem
A Fig. 1 apresenta a produtividade anual em cada tipo de publicação no período estudado. Pela distribuição das freqüências tabuladas no período estudado em cada tipo de publicação, percebe-se claramente que os artigos de periódicos e os trabalhos publicados em anais representam a grande maioria da produção científica em automação de bibliotecas, oscilando ano a ano a predominância de cada um deles.

Em Outros tipos de materiais, já exemplificados anteriormente, na maioria das vezes restringem-se a publicações internas. Os anos de maior publicação destes materiais identificados da Fig. 1, podem não significar anos de maior produção, mas sim, anos de maior "vazamento", ou seja, divulgação externa destes documentos.

Aqui, a aplicação do teste de homogeneidade, considerando-se n.g. 1 .=24, n.sig.=0,05 e X2C=55,8, nos permite concluir houve concentração significante de publicações apenas nos anos de 1986, onde X20= 114,15 e 1994 onde X2o=l 13,41, ambos com concentração acima do esperado, sendo que os anais representam nestes dois anos, a maior concentração de publicações sendo X2o=80,05 e X2O=85,33 respectivamente.

Outro ponto a se levar em consideração é que a Biblioteconomia, é uma área com poucos títulos de periódicos especializados em nível nacional, embora sejam de qualidade apreciável, fato que contribui para a decisão de tabulação dos dados referentes à automação de bibliotecas, especificando cada um destes periódicos.

Os dados tabulados neste aspecto, mostraram que na área de automação de bibliotecas, dentre as 160 referências localizadas sobre o tema em periódicos, verificou-se uma maior concentração destas na revista Ciência da Informação (59), publicada pelo IBICT. Em seguida verificou-se também uma concentração de referências sobre o tema na Revista de Biblioteconomia de Brasília (55), publicada pela Universidade de Brasília - UnB.
Porcentagem

  Os outros periódicos, podem ser ordenados na seguinte seqüência, quanto à concentração do tema estudado neste trabalho: Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação (20), Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG (9), Transinformação (8) e Outros periódicos (9), dentre os quais o Boletim ABDF: Nova Série e revistas de outras áreas. Pelos dados da Fig.2, verifica-se que a Revista de Biblioteconomia de Brasília, mostra uma oscilação muito diferenciada. Ao mesmo tempo que, em 1990 publicou um grande número de trabalhos na área de automação também é visível nas demais revistas. Isto é esperado já que se trata de periódicos com temas em aberto.

Para verificar se nas freqüências do tema automação de bibliotecas em cada periódico nacional há alguma tendência estatisticamente significante, foi aplicado e teste de homogeneidade, sendo n.g.l.=5, n.sig.=0,05 e X2 =11,1. O resultado obtido identificou uma significância de concentração apenas nas freqüências dos periódicos Ciência da Informação, onde X2o=41,88 e Revista de Biblioteconomia de Brasília, onde X2o=32,34, ambas acima do esperado. Os demais, mantiveram-se no nível esperado.

A aplicação do teste de homogeneidade, no que se refere ao periódico que mais apresentou textos sobre automação de bibliotecas considerando-se o período estudado como um todo, onde n.g. 1.=40, n.sig.=0,05 e X2 =36,4, ob-teve-se como resultado que apenas no ano de 1990, houve uma produção sobre o assunto estudado com concentração significante, com X2 =88,00, situando-se bem acima do esperado. Neste ano a concentração mais significante se deu no periódico Revista de Biblioteconomia de Brasília (X2o=72,20).

Nos demais anos, observou-se ocorrências muito próximas do esperado, no que se refere a publicações em periódicos especializados da área de Biblioteconomia, posto que são dedicados à todos os temas da área.

Pelo resultado expresso na Fig. 3, o ano de maior concentração de produtividade científica sobre o tema abordado, que no periódico estudado foi de 267 trabalhos, foi o ano de 1986 (80). Nos anos seguintes, notou-se uma variação não linear: 1987 (42), 1988 (17), 1989 (42), 1990 (65), 1991 (40), 1992 (48), 1993 (7), e 1994 (48).

Um ponto importante a ser destacado é a introdução do MicroISIS, software desenvolvido pela Unesco, e distribuído no Brasil pelo IBICT, por volta de 1980.

Assim, a alta produção em 1986, pode ter se originado da explosão das primeiras experiências na utilização do MicroISIS, software que por ser praticamente gratuito, viabilizou os primeiros avanços nesta área, situação que culminou com a criação do Grupo de Usuários do MicroISIS a partir do II Seminário Catarinense de Biblioteconomia e Informação, realizado em 1988 (Ohira, 1992:233).

Passada essa euforia inicial, que a produção científica biblioteconômica, volt -5se a enfocar outros assuntos. Ou seja, não enfocasse somente a automação em detrimento de outras linhas de pesquisas existentes, e tão importantes quanto esta, afinal a automação é um meio e não o fim da Biblioteconômica.

Porcentagem
   
 Outro fato que deverá ser levado em consideração, é que na realidade nacional, muitas revistas especializadas tem suas publicações afetadas por variáveis econômicas, que contribuem para o atraso e até mesmo a falta de publicações regulares. Assim, os resultados desta análise podem ser considerados satisfatórios dentro das possibilidades nacionais.

A verificação das freqüências observadas quanto às suas tendências estatisticamente significantes, foi realizada com a aplicação do teste de homogeneidade de distribuição, sendo n.g.l.=8, n.sig.=0,05 e X2C=15,5. Assim, no ano de 1986 foi obtido X2O=89,68, podendo se concluir que houve uma concentração significante neste ano em questão bem superior ao esperado. Observou-se também que no ano de 1990 (X2O=44,68) teve-se uma concentração superior ao esperado.

Quanto às tabulações referentes aos aspectos de autoria, verificou-se uma tendência dos pesquisadores em biblioteconomia e ciência da informação, na publicação de artigos e trabalhos individuais. Das 397 referências tabuladas a maior concentração verificada foi em trabalhos de autoria única (220). Também apresentaram um bom nível de concentração trabalhos de autoria em dupla (87) e de autoria em trio (50). Autorias em grupos maiores, não foram comuns na comunidade científica biblioteconômica para o tema estudado (Fig. 4).
Porcentagem

A aplicação do teste de homogeneidade, onde n.g.l.=-7, n.sig.=0,05 e X2 =14,1, nos permite concluir que significantemente houve uma concentração de trabalhos de autoria individual, onde X2o=596,75. Em níveis de concentração menores mas também significantes por sua raridade, encontram-se os trabalhos com Mais de Cinco Autores (X2o=45,08), Sem autoria (X2o=41,32), com Cinco Autores (X2O=41,32) e Autores Institucionais (X2o=29,46), todos com concentração muito abaixo do esperado estatisticamente.

Ainda quanto à questão da autoria de trabalhos, foi observado que dentro de uma freqüência geral de 628 pesquisadores tabulados, a uma concentração de publicações científicas em automação de bibliotecas entre os pesquisadores do sexo feminino (443).

Como em Biblioteconomia a porcentagem de homens é de aproximadamente de 10%, como mostra a pesquisa realizada por Oliveira (1983), onde em uma amostra de 311 profissionais, 278 eram do sexo feminino e apenas 33 constituíam a população biblioteconômica masculina, verifica-se que os poucos homens existentes na comunidade biblioteconômica, aparentemente, são altamente produtivos, pois em termos de produtividade, representam quase 30% da produção científica em automação, entretanto cabem análises mais específicas.

Com o teste de homogeneidade, onde n.g.l.=l, n.sig.=0,05 e X2C=3,84, foi obtido um resultado de X2o=105,98 sendo que significantemente a produção feminina foi superior (X2o=52,99) e acima do esperado, enquanto que a masculina esteve aquém (X2o=52,99).

Quanto aos temas mais abordados, verificou-se que, de um total de 750 freqüências tabuladas, a maior concentração de trabalhos trata o tema Implantação de Sistemas Automatizados (152), seguido por Bancos e Bases de Dados (142), ficando os demais temas relacionados com freqüências bem mais baixas, como pode ser observado na Fig. 5.

Convém ressaltar que um mesmo trabalho foi tabulado em diferentes assuntos, o que demonstra uma situação comparativa preocupante: os trabalhos que versam sobre Implantação de Sistemas Automatizados, que deveriam em sua maioria centrar-se nas técnicas administrativas adotadas para a automação de uma determinada biblioteca, não o fazem. A produção ocupa-se mais em descrever softwares, e listar os serviços que estão sendo automatizados, do que fornecer embasamento teórico sobre o planejamento destes sistemas automatizados, ou dados de pesquisa. Os dados mostram uma freqüência bem inferior em planejamento em comparação ao tema Implantação de Sistemas Automatizados.
 
Porcentagem

Para que os bibliotecários possam dominar esta nova tecnologia emergente, são necessárias mais informações administrativas e operacionais, do que saber que um outro bibliotecário usa tal software e vai automatizar tais e tais funções em detrimento de outras. A Fig. 5 mostra claramente esta defasagem.

Para a verificação de tendências estatisticamente significantes, o teste de homogeneidade foi aplicado, sendo n.g.l.=8, n.sig.=0,05 e X2C=15,5. Os resultados obtidos (X2o=228,63) identificaram alta concentração significante nos temas Implantação de Sistemas Automatizados (X2O=57,36) e Bancos e Bases de Dados (X2O=41,94); e muito baixa em bibliografias (X2o=57,36) e Ensino da Informática nos Cursos de Biblioteconomia (X2O=33,84), onde verificou-se um nível bem aquém do espera. Já nos demais temas verificou-se um nível de freqüências dentro do esperado.

4. CONCLUSÃO

A análise dos resultados obtidos, e a validação destas freqüências através da aplicação do teste de associação qui-quadrado, vem confirmar a situação apontada no início deste estudo, e até mesmo a agrava.

A questão da qualidade em termos de validade é utilidade da produção científica na área de automação de bibliotecas, para o desenvolvimento da Biblioteconomia como ciência, e para o seu avanço tecnológico, se apresenta realmente crítica. Mesmo em termos quantitativos a produção científica anual em automação de bibliotecas se mostra insignificante, principalmente de 1990 para os dias atuais.
 
A baixa quantidade, seguida pela baixa qualidade em termos de desenvolvimento da ciência biblioteconômica quanto ao seu avanço tecnológico, desta produção científica em automação de bibliotecas, nos mostra um quadro de estagnação da Biblioteconomia frente ao estudo de novas tecnologias.

Infelizmente ainda, na Biblioteconomia, a produção científica, na área de automação de bibliotecas, é definida por projetos institucionais, dos quais os profissionais participam mais por conseqüência do cargo que ocupam na instituição, do que por produção científica propriamente dita.

Faz-se necessário uma retomada do tema informática documentária, mas não com o enfoque dado à ele até hoje. Esta retomada deverá basear-se em estudos científicos da situação e não como tinha sido encarada até então - apenas para a promoção e divulgação de projetos particulares de instituições e profissionais específicos. É preciso que este tema seja encarado com a mesma seriedade com que se estuda a situação e o papel da Biblioteconomia na sociedade, seus fundamentos teóricos, seus problemas.

Este estudo demonstrou claramente que enquanto a automação de bibliotecas era "moda" possibilitando um certo marketing pessoal, houve uma corrida em direção a modernidade. Todos queriam divulgar seus projetos pessoais, mas não se encarou a automação cientificamente, fazendo pesquisas das múltiplas variáveis e situações envolvidas.

Atualmente, frente à nova situação da informática no Brasil que não é mais vista como um recurso inviável, o que conseqüentemente diminui a importância de projetos isolados, houve uma queda na produção científica sobre Automação de Bibliotecas, principalmente nos periódicos especializados nacionais. A produção sobre este tema manteve-se restrita nos últimos anos, aos Anais e Eventos.

Está na hora de trabalhar este assunto mais profundamente, e investir em estudos mais sofisticados para que estes possam contribuir para o crescimento da Biblioteconomia como ciência, e principalmente como área tecnológica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBETTA, Pedro Alberto. Estatística aplicada às Ciências Sociais. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1994. 284p.
KNOLL, Marília Damiani da Costa, Compil. Bibliografia brasileira sobre automação em bibliotecas e sistemas de informação: 1980/1986. São José dos Campos: INPE, 1986. 96p.
NOCETTI, Milton a., Colab. Bibliografia brasileira sobre automação de serviços bibliotecários, 1968-1981. Brasília: EMBRAPA, 1982. 75p.
OHIRA, Maria de Lourdes Blatt. Automação de bibliotecas: utilização do MicroISIS. Ciência da Informação, Brasília, v.21, n.3, p.233-237, set./ dez. 1992.
OHIRA, Maria de Lourdes Blatt. Biblioinfo - base de dados sobre automação em Bibliotecas (Informática Documentária): 1986-1994. Ciência da Informação, Brasília, v.23, n.3, p.369-371, set./dez. 1994.
OHIRA, Maria Lourdes Blatt, Compil. Base de dados sobre automação em bibliotecas (informática documentária): 1986-1994 - BIBLIOINFO. Florianópolis: UDESC, 1994. ldisq. (Acompanha Manual de Instalação e Uso).
OLIVEIRA, Zita Catarina Prates de. O bibliotecário e sua auto-imagem. São Paulo: Pioneira; Brasília: INL, 1983. 98p. (Manuais de Estudo)
POBLACIÓN, Dinah Aguiar. Artigos científicos e Transformação: pré requisitos para publicação. Transinformação, Campinas, v.l, n.l, p.51-64, jan./ abr. 1989.

___________

Abstract

This following piece of work consists on an evaluation of the scientifc production in library automation in the last seven years. Through a survey about this production from the database BIBLIOINFO, try to conceive a profile about it in the whole country. The related data were analysed based on the following variables: kind of publication, kind of authorship, sex of the field researchers and the most borded themes. So, it identifies the need of a more scientific approach of the theme, for great part of the production is focused in experience reports, which are little helpful for the library automation development in Brazil.



________

Cíntia de Azevedo Lourenço

 Mestranda na Pontifícia Universidade Católica de Campinas
Rev. ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v. 2, n.2, p. 51-63, 1997.