BIBLIOTECAS PÚBLICAS MUNICIPAIS CATARINENSES

Gisela Eggert-Steindel

Sueli Ferreira Júlio Oliveira

Karla Shimigelow

Resumo

Efetuou-se um diagnóstico da biblioteca pública municipal do Estado de Santa Catarina. O estudo utilizou como metodologia à pesquisa descritiva e documental. Três categorias foram utilizadas para o levantamento de dados: a identificação, o acervo e o usuário da biblioteca pública municipal. Os dados mostraram uma instituição ainda frágil ante aos desafios da biblioteca pública
junto às comunidades.

Palavras-Chave: Biblioteca Pública; Biblioteca Pública Municipal – Santa Catarina; Biblioteca Pública Municipal – Características; Biblioteca Pública Municipal – Acervo e Usuário

1 INTRODUÇÃO

O artigo tem por objetivo relatar os resultados da pesquisa
descritiva e documental que buscou investigar e diagnosticar
diferentes realidades das Bibliotecas Públicas Municipais do
Estado de Santa Catarina para subsidiar ações governamentais
de implantação e/ou revitalização destas agências sociais de
informação e conhecimento. Os objetivos específicos desta
pesquisa foram: estabelecer um quadro da estrutura legal e
administrativa da biblioteca municipal; conhecer a estrutura
física, os recursos humanos, financeiros e tecnológicos da
biblioteca municipal; identificar a forma de organização e
administração dessa instituição; compor um quadro dos serviços
e produtos oferecidos pelas bibliotecas públicas municipais.

O Estado de Santa Catarina tem uma população estimada
de 4,8 milhões de habitantes, com uma superfície de 95,9 mil
quilômetros quadrados. Com somente 1,1% do território e 3%
da população do país, o estado ocupa a sétima posição na
formação do pib e, apesar de participar com apenas 4,01%, tem
o segundo maior pib per capita do Brasil. Limita-se ao norte
com o estado do Paraná, ao sul com o estado do rio grande do
sul, ao oeste com a república Argentina e a leste com o oceano
atlântico.

A primeira biblioteca pública no Brasil é instalada por
iniciativa particular de Pedro Gomes ferrão castelo branco, em
1811 na Bahia, com objetivo: “[...] remover o primeiro e maior
obstáculo que se oferece a instrução pública, o qual consiste na
falta de livros e de notícias do estado das artes de ciências da
Europa” (FONSECA, 1979:24). Constata-se que a maioria das
bibliotecas públicas brasileiras foi criada no século XIX cujos
acervos são constituídos por imitações européias, grande
maioria foi criada sem possuir sede própria para seu
desenvolvimento e continuidade. No século XX próximo
passado, ainda foram poucas as bibliotecas públicas municipais
que obtiveram prédios próprios; as bibliotecas municipais de
Curitiba (PR) e São Paulo (SP) são exemplos raros.

2 METODOLOGIA

Conhecer as diferentes realidades da biblioteca pública
municipal catarinense implicou na utilização de diferentes
métodos e fontes para mapear a atualidade. Desta forma o
estudo utilizou a pesquisa descritiva e documental.

A pesquisa descritiva utilizou um questionário elegendo
três categorias, a saber: a caracterização, o acervo e o usuário da
biblioteca municipal. Já pesquisa documental se valeu de
materiais que ainda não receberam tratamento analítico, as
fontes para esta natureza de pesquisa se caracterizam por sua
diversidade e dispersão: cartas, ofícios, relatórios... (GIL, 1996).

3 RESULTADOS E ANÁLISE

Foram enviados 293 questionários, desses, 39 municípios
responderam que não possuíam biblioteca pública e 93
responderam positivamente, 161 municípios não responderam o
questionário. Os resultados aqui apresentados referem-se a 93
bibliotecas municipais catarinenses.

3.1 Características da Biblioteca Pública Municipal Catarinense

A caracterização/identificação das bibliotecas públicas
catarinenses, compreendeu a existência de leis pelas quais foram
criadas, o ano de sua criação, o devido registro no Instituto
Nacional do Livro - INL e no Sistema de Bibliotecas Públicas de
Santa Catarina - SBPSC.

A década de 70 apresentou o maior número da criação das
bibliotecas municipais no Estado de Santa Catarina. Neste
período foram criadas 27 bibliotecas 29,03% e na década de 60
foram criadas 19 bibliotecas 20%. As bibliotecas públicas de
Santa Catarina quando criadas têm em suas
denominações/patrono homenageando figuras ligadas a história,
a literatura, a política nacional, estadual como: Olavo Bilac, Rui
Barbosa, Presidente Médici, Governador Celso Ramos etc., com
menos freqüência são homenageados cidadãos ligados à
comunidade local.

Os dados da infra-estrutura das bibliotecas públicas
municipais refletem um quadro muito semelhante àqueles dos
arquivos públicos brasileiros apontados por Cortês (1996): os
acervos com preservação satisfatória, mudanças constantes de
sedes, os seus usuários não tem acesso às informações como
deveriam, além do que as informações não estão todas tratadas,
e sim jogadas em depósitos, sem tratamento. Situações
semelhantes ocorrem com as nossas bibliotecas. Constatou-se
que normalmente as bibliotecas públicas estão instaladas em
locais impróprios, salas em ginásios de esportes, construções
residenciais ou comerciais. A pesquisa mostrou que 17,7% de
nossas bibliotecas sofreram mudanças de sede física e 13,0%
funcionam em locais e instalações impróprias. A biblioteca
assume um caráter de nômade dentro do município, que Suaiden
(1995) chama de "destino andejo"; há uma certa fragilidade na
construção do reconhecimento social da biblioteca pública. O
pressuposto da instalação da biblioteca pública é o improviso,
isto é, de espaços já não mais utilizados pelas autoridades
municipais, locais como: salas em ginásios de esportes,
residências e outros, situações semelhantes já citadas por
Milanesi (1997). Raramente as bibliotecas localizam-se em
espaços projetados e construídos especialmente para este fim.

A sede própria influi no desenvolvimento das atividades de
uma instituição, verificou-se nesta pesquisa que 74,2% das
bibliotecas públicas catarinenses não estão instaladas em sede
própria; 20,5% delas estão instaladas em prédio próprio, e 5,3%
não respondeu a esta questão. Segundo a publicação da
fundação biblioteca nacional e departamento nacional do livro
(1992), uma biblioteca pública, por extensão, deve constituir-se
num ambiente de caráter público, de confluências agradáveis no
qual os diferentes públicos possam se encontrar, conversar,
trocar idéias, discutir problemas, saciar curiosidades, auto
instruir-se, criar, ter contato direto com escritores, organizar
teatro e outras e outra atividades culturais de lazer.

O espaço físico da biblioteca deve prever áreas separadas
para o armazenamento do acervo, para os serviços internos, para
o espaço de leitura e para as atividades culturais e de lazer, em
fim deve-se evitar que um ambiente interfira no outro. A
pesquisa mostrou que nem todas as bibliotecas apresentam um
espaço físico adequado. A existência de sala de atendimento e
salão de leitura foi de 31,3% nas bibliotecas publicas
pesquisadas.

A falta de outros ambientes ocorre porque nossas
autoridades aceitam como válidos: instalações improvisadas e
não planejadas para abriga-la, como os exemplos levantados
nesse estudo: prédio com sobrado - andar superior residência
familiar/ sala de aula em um Colégio Estadual, que segundo
Milanesi (1997) já se assumiu como biblioteca escolar/ sala
variando entre 35 a 1178 metros quadrados (algumas com um
bom espaço e outra com quase nenhum)/ uma casa com 3 salas,
uma cozinha e 3 banheiros ( casa de moradia)/ o uso de mesas e
carteiras escolares/ sala anexa ao prédio da prefeitura/ sala de
difícil acesso e falta de mobiliário/ proximidades com colégio
estadual/ a biblioteca possui 2 pavimentos/ a biblioteca está
instalada em uma casa de 48 metros quadrados/ ocupa andar
superior da rodoviária do município/ casa antiga de madeira
doada pelo exercito/ antiga estação ferroviária onde funciona a
biblioteca e museu; um grande salão construído a 100 anos/
biblioteca-sala de aproximadamente 110 metros quadrados.
Ainda ilustrando a situação das bibliotecas públicas municipais
do estado, quanto às condições de trabalho e desenvolvimento
de atividades para a comunidade, apontou-se neste estudo: a
falta de espaço físico e acervo para atender a demanda; a
necessidade de reformas nas instalações físicas, necessidade da
atualização do acervo; problemas com o quadro de funcionários;
verbas para manutenção e atualização do acervo; a
informatização é mínima; não há recursos financeiros para
oferecer serviços; faltam profissionais qualificados; local
inadequado inibe o usuário.

Quando investigados os objetivos da biblioteca municipal,
verificou-se que ela tem como principal objetivo atender a
clientela estudantil, principalmente o 1º e 2º grau, confirmando
dados já levantados por Milanesi (1997). Segundo esse Autor, os
estudantes são cerca de 80% do público que freqüenta as
bibliotecas públicas e lembra que os alunos comparecem a
biblioteca de modo compulsório sendo esta uma ação oposta da
ação cultural. Destacam-se, porém, as exposições, os eventos
culturais, a hora do conto, como um importante objetivo da
biblioteca pública catarinense como centro de informação e
socialização na comunidade.

Quanto ao organograma a biblioteca pública municipal
catarinense, está principalmente subordinada a secretarias de
educação, 82,0%; a secretarias da administração, 42,0% e, em
último lugar a fundações culturais, 2%. Mais uma vez há um
forte indício dessa instituição à assumir-se como biblioteca
escolar.

Verificou-se que 87,0% das bibliotecas públicas
municipais não recebem recursos anuais, 12% recebem verba
anual e 2,0% não informaram a questão. Já os valores em
salários mínimos recebidos pelas bibliotecas concentraram-se
até 10 salários e mais de 31 salários. É importante verificar que
83,0% não informou os valores recebidos. A fonte dos recursos
na maioria das bibliotecas é oriunda diretamente da prefeitura do
município,13% e, das secretarias da educação, 5,3%. Segundo
Milanesi (1997), mesmo havendo uma clara responsabilidade
dos poderes públicos, é fundamental que haja a participação da
sociedade na administração de espaços culturais; formas
associativas que se integram à direção oficial da repartição
pública são a garantia de sua adequação aos interesses coletivos.

Os instrumentos administrativos visam dar coerência e
consistência às ações de qualquer empresa seja ela de caráter
público ou privado. Quando solicitada a informação referente à
existência ou não de regulamentos, os dados mostram que
61,2% das bibliotecas têm um regulamento aprovado quanto a
horário, empréstimo, devolução, silêncio na biblioteca. Já 32,3%
das bibliotecas não têm qualquer tipo de regulamento e 6,5%
não responderam a questão.

A estrutura organizacional apresenta os setores tradicionais
da biblioteca como mostra a tabela 1 a seguir.

                    Tabela 1 - Estrutura organizacional
Estrutura Organizacional
 Freq.
%
Setor técnico
71
29,4
Setor de desenvolvimento de coleções
70
29,1
Setor de referência
60
24,8
Setor de conservação 34
14,2
Setor de educação especial 1
0,5
Não informou
5
2,0
         Obs: Mais de uma resposta possível

O setor técnico: classificação, catalogação, preparo físico
do livro se destaca quantitativamente, porém o resultado parece
ínfimo, pois os dados que dizem respeito aos motivos à restrição
do uso da coleção, referem-se significativamente a falta de um
catálogo impresso organizado.

Os dados coletados do quadro de pessoal revelaram que
84,7% são mulheres e 15,3% são homens. A faixa etária
predominante do conjunto de 222 funcionários está entre 35 e 45
anos de idade. Os dados mostram que a força de trabalho atuante
nestas unidades culturais é adulta madura. Observa-se que 10
bibliotecas não responderam a esta questão.

                Tabela 2 - Nível de escolaridade do quadro de pessoal
CURSOS
1. GRAU
2. GRAU
SUPERIOR
PÓS
I
C
I
C
I
C
Esp.
Ms.
Bel.
Outros
18
12
8
100
18
21
27
9
Z
8,5%
5,7%
3,7%
47,6%
8,5%
10%
12,8%
3,2%
Z
    Obs: Possível mais de uma resposta
            i – incompleto c – completo

No quadro funcionários das bibliotecas catarinenses,
apenas 10% das bibliotecas pesquisadas possuem em seus
quadros profissionais bacharéis em biblioteconomia. O estudo
de Macedo (1999) mostra que o número de bibliotecários que
trabalham em bibliotecas públicas no interior ainda é muito
pequeno. A federação internacional de bibliotecários - IFLA
recomenda a existência de um profissional bibliotecário para
cada 10.000 habitantes.

O nível de instrução do quadro de pessoal dito de apoio da
biblioteca oscila entre primeiro grau completo, incompleto,
segundo grau completo, incompleto. O nível de segundo grau
completo tem o maior percentual, isto é, 47%. Quanto aos dados
de qualificação específica para atuarem em bibliotecas como
auxiliar de bibliotecas, técnicos, ou atendentes de bibliotecas,
apenas 19,4% tem algum curso voltado para desenvolver essa
sua função, os demais totalizando 54,1% aprenderam na prática
as rotinas da biblioteca.

Dentre as atividades desenvolvidas nas bibliotecas,
destaca-se: 21,7% está o atendimento aos usuários, seguido de
16,1% o balcão de empréstimo e 15,6% a manutenção de
estantes, enfim atividades que não estão voltadas para o usuário
no sentido de atuar no desenvolvimento do gosto pela leitura ou
integrá-lo social e culturalmente, atividades meramente técnicas
e administrativas.

O horário de funcionamento das bibliotecas públicas foi
investigado. Segundo estudo de Milanesi (1997) as bibliotecas
públicas permanecem fechadas à noite e nos fins de semana,
períodos em que poderiam ser utilizados com maior facilidade
pelo público e muitas fecham para o almoço e isto se deve ao
número reduzido de funcionários, tendo o mesmo
funcionamento de repartições públicas, mas são órgãos de
prestação de serviço a comunidade. Isto é confirmando neste
estudo conforme os dados observou-se que 70% fecham para o
almoço. Funcionam no horário (8h - 19h) 21,4%, abertas (8h -
22h) 2,2%. Funcionam somente à noite (18h - 22h) 3,2%; sem
período definido1, 0%. O funcionamento aos sábados ficou no
percentual de 8,6%. Neste aspecto a autor acima citado afirma
que "a utilização em período mais amplo, incluindo o sábado e o
domingo, é rara, ainda que seja desejável" (MILANESI, 1997, p.
245), pois são períodos/dias em que as pessoas que trabalham e
estudam e/ou não - poderiam utiliza-las para lazer. Segundo
Macedo (1999, p.108):

por falta de um corpo adequado de funcionários,
nenhum dos sistemas cobre perfeitamente
períodos noturno e sábados – nunca aos
domingos! Os melhores supermercados, agora,
funcionando à noite e até aos domingos, têm
trazido uma grande clientela e novos hábitos aos
cidadãos [...]

3.2 O USUÁRIO DA BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL CATARINENSE

Quem é o usuário da biblioteca pública catarinense?
Conforme verificado na pesquisa, o aluno de 1º e 2º grau é o
maior público atendido pela biblioteca pública municipal
catarinense, dado indicado na literatura e observado
empiricamente – a biblioteca pública vem ao longo dos anos
funcionando dentro de um conceito de disfunção; isto é
priorizando atividades, acervos, funcionários entre outros para
alcançar objetivos da biblioteca escolar. Assim, ao invés destas
bibliotecas atuarem de modo complementar, uma auxiliando a
outra; estabelece-se um quadro caótico numa biblioteca e na
outra um quadro de completo abandono por parte do professor,
diretor e autoridades envolvidas no processo do ensino de 1º e 2º
graus.

A cultura do livro, da informação e da biblioteca será
oportunizada somente para aquele aluno que alcançar o nível
superior. Resulta daí o corpo estranho que vem a ser o livro e a
leitura para grande parte da população brasileira. A aproximação
com o livro, a informação na mais tenra idade pode ser uma
importante variável na formação de alunos preparados e críticos
de seu contexto sócio-econômico e político. Milanesi (1997)
afirma que não menos de 80% do público que freqüenta as
bibliotecas públicas fora ou dentro de centros de cultura é
constituído de escolares, é um público real e este não pode ser
excluído das estatísticas. Milanesi questiona: como integrar este
usuário nas atividades culturais? O público infantil representa
importante usuário freqüentador da biblioteca municipal
catarinense com 17,8%. Conforme visto na tabela 3:

Tabela 3 - Usuário Atendido na Biblioteca Pública Catarinense
Categoria de usuário
Freq.
%
Estudantes de 1º e 2º graus
55
22,8
Público infantil
43
17,8
Funcionários do município 40
16,5
Estudantes universitários 39
16,2
Funcionários do estado
38
15,7
Idosos
26
10,5
        Obs: Mais de uma resposta possível

Qual a forma de atendimento ao usuário da biblioteca
pública municipal? Nas bibliotecas públicas catarinenses, é
majoritário o atendimento no local 62,6%, seguido do serviço
por telefone 25,3% e por correspondência 10,2%. Fax,
comunicação oral e o carro ambulante são pouco usados, somam
um total de 2,8%.

Os dados mostram que 57% das bibliotecas públicas
realizam menos de 500 atendimentos mês, em seqüência
observa-se que com um percentual de 16% realizam
atendimentos de 501 a 1000 mês. Seguido de 1001 a 1500 com
um percentual de 9,7%, ainda com um percentual de 7,5% acima
de 2001 atendimentos mês. Não foram comparados os
percentuais acima com a população de cada localidade, como o
recomendado por Milanesi (1997).

Observou-se quais os instrumentos de busca da informação
oferecidos aos usuários pela biblioteca pública. O catálogo
impresso/convencional é o instrumento de busca para 19% das
bibliotecas, apenas 4% citam as base de dados. Isto mostra a
realidade das nossas bibliotecas públicas quanto a
informatização. Lembra-se aqui, que no tocante à restrição para
o uso da coleção, três variáveis foram mencionadas: falta de
catálogo 27,7 %, catálogo em fase de organização 26,2% e falta
de identificação do acervo 24,8%. Observa-se que a "falta de
catálogo" é o mais significativo no acesso à coleção das
bibliotecas. Milanesi (1997), ao discorrer acerca de um dos mais
velhos e conhecidos instrumentos nas bibliotecas, não deixa de
mostrar seu desapontamento quanto à precariedade deste
instrumento nas bibliotecas públicas brasileiras. A respeito do
estado precário de conservação do acervo pode-se dizer que
10,8% são apontados como motivos de restrição à coleção.
Outros motivos de restrição são citados com um percentual de
1,5%, como: razões legais; recursos financeiros; falta de
computador; regime de comodato; acervo desatualizado; número
reduzido de exemplares.

A informatização ou não do acervo também pode ser
considerada como uma restrição ao uso dos recursos
informacionais da biblioteca, esta ainda é tímida nas bibliotecas
catarinenses. Podemos afirmar que 54% das bibliotecas
pesquisadas ainda não tem nenhum tipo de informatização.
Dados mostraram que 26% está prevendo a informatização e
apenas 13% tem alguns setores informatizados dentro de suas
bibliotecas. Os setores mais informatizados correspondem ao
setor de empréstimo, 36,0 %; à coleção de livros, 28,5%; o setor
de referência e setor técnico tem o mesmo percentual de
informatização, 14,3 %.

A rede internet, segundo os dados, é realidade em 7% das
bibliotecas investigadas. Este dado mostra a nossa deficiência
para entrarmos no projeto da sociedade da informação, a qual
busca interligar bibliotecas como tônica para diminuir a lacuna
cultural e informacional.

A principal atividade desenvolvida pela biblioteca pública
catarinense com percentual de 49% é o empréstimo; seguido
com um percentual de 17% para a exposição. Para Milanesi
(1997:250 – 257), a exposição, é "uma das atividades mais
dinâmicas dos espaços culturais", e com o mesmo percentual de
12,9%, as atividades "eventos culturais" e "hora de conto", este
Autor chama a atenção dizendo que "as atividades destinadas às
crianças deverão ser um estímulo à criatividade, por meio de
vários recursos, incluindo as expressões dramáticas e plásticas".
Outras atividades citadas com um baixo percentual: "biblioteca
itinerante"; "varal literário"; "música na biblioteca"; "trocatroca"
e "mural". Atividades como "plantão tira dúvida" e
"pesquisa", foram citadas com um baixo percentual, mas
reforçam a idéia da biblioteca pública atender o público escolar,
sem esta estar preocupada com as atividades voltadas para o
desenvolvimento criativo, cultural e informacional da
comunidade.

3.3 O ACERVO DA BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL CATARINENSE

Os dados mostraram que 37,7% das 93 bibliotecas
pesquisadas têm um acervo entre 5.001 a 10.000 volumes.
Almeida afirma que: "[...] padrões fornecidos pela IFLA são
interessantes: por exemplo, ela propõe 2 volumes (livros) por
habitante."

    Tabela 4 - Volume do Acervo da Biblioteca
VOLUME DO ACERVO
FREQ.
%
5001 – 10000
35
37,7
1001 – 5000
31
33,4
10001 - 15000
9
9,6
15001 –20000
3
3,2
20000 – 30000
3
3,2
acima de 30000
3
3,2
menor que 1000
2
2,2
sem resposta
7
7,5
N=93


Os dados levantados na pesquisa quanto ao número de
títulos de livros no acervo das bibliotecas versus o número de
habitantes não alcança o recomendado, alguns exemplos
ilustram estes dados comparando número de habitantes
conforme A Federação Catarinense de Associações de
Municípios – FECAM e dados levantados nesta pesquisa. O
município de Florianópolis, capital catarinense com uma
população de 278.576 habitantes deveria ter 557.152 livros em
seu acervo, no entanto sua biblioteca pública municipal tem um
acervo de 56.246 livros. O município de Blumenau, com uma
população de 240.302 habitantes, tem na sua biblioteca um
acervo de 36.436 livros; o recomendado seria de 72.872 livros.
Os acervos das bibliotecas públicas catarinenses estão abaixo
dos padrões recomendados.

Verificou-se também o estado de conservação desses
acervos. Em 55,9% das bibliotecas pesquisadas, os informantes
consideram ter um bom estado de conservação do seu acervo.
Apontam que o local é adequado e tem constantes cuidados com
o acervo através de serviços de encadernação e re-encadernação
das doações recebidas. Afirmam receber normalmente em bom
estado, algumas bibliotecas realizam atividades educacionais
para a conservação dos livros junto aos usuários. Vale lembrar
que alguns comentários com respeito à não conservação se
mostraram contrários aos dados quantitativos como: “acervo
danificado por grande uso”/ “livros bastante manuseados”/ “falta
espaço físico ideal”/ “ acervo antigo e dificuldade de
conservação”/ “falta de treinamento para os funcionários no
manuseio do acervo”/ “acervo desatualizado”/ “devido a
mudança de endereços o acervo é danificado, por isso irregular”.

Os temas mais pesquisados nas bibliotecas segundo os
dados são: "Ciências/Química/Física",38,6%, seguido do
assunto "História", com 25,2%, quer este seja de ordem local,
regional, nacional ou universal. Ainda temas ligados aos
Programas Escolares, como "Meio Ambiente/Geografia",
14,7%. A "Literatura" é apontada com um percentual de 21,5%,
o que mostra que biblioteca pública cumpre um dos seus papéis
alcançando principalmente o público escolar.

3.3.1 Ainda outros dados

Como último item, verificou-se qual o conhecimento dos
representantes responsáveis pela biblioteca pública do município
tem acerca do programa "uma biblioteca em cada município. O
Ministério da Cultura vem desenvolvendo desde a década de 90
o programa "uma biblioteca em cada município" através de
convênios realizados com as prefeituras ou governos estaduais.
O Ministério da Cultura não constrói prédios de bibliotecas a
não ser no caso das emendas de parlamentares ao programa,
tanto o prédio deve estar próximo à escola ou num lugar de fácil
acesso quanto a lei de criação da biblioteca, os funcionários e a
linha telefônica constituem a contrapartida obrigatória dos
municípios ou do estado

As respostas mostraram um quase desconhecimento do
programa pelos informantes, mas isto pode-se atribuir também
ao pouco conhecimento dos trâmites legais e administrativos
destes informantes quanto a projetos voltados para bibliotecas.
Por outro lado leva a pensar, que quanto maior o nível de
qualificação do quadro de pessoal, melhor é o nível de absorção
de informações em uma instituição; isto reforça a necessidade de
ampliação do número de bacharéis bibliotecários em nossas
bibliotecas públicas.

4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

O estudo mostrou que ao caracterizar a biblioteca pública
municipal suas denominações/seus patronos têm com mais
freqüência homenageados/patronos, ligados à história, literatura,
política nacional e com menos freqüência homenageados figuras
da comunidade local. A biblioteca pública municipal em Santa
Catarina tem a marca do "destino andejo", Suaiden (1995). O
quadro de bibliotecários bacharéis frente à administração das
bibliotecas é bastante reduzido diante do número de municípios
existentes no estado. O número de atendentes/responsáveis pela
biblioteca é expressivamente maior frente à administração das
bibliotecas municipais.

O usuário da biblioteca pública municipal catarinense não
foge a regra nacional, isto é, seu público é principalmente o
estudante, que busca na biblioteca pública suprir os serviços não
oferecidos pela biblioteca escolar.

Os dados mostram que a maioria das bibliotecas tem um
acervo entre 5.000 a 10.000 títulos e, segundo seus informantes,
este apresenta um bom estado de conservação. Mas os
informantes não deixam de expressar dificuldades no estado de
conservação das coleções.

Os temas mais buscados na biblioteca pública catarinense
estão diretamente ligados ao seu público maior, o estudante de
ciências/química/física.

Pode-se afirmar que 54% das bibliotecas pesquisadas
ainda não têm nenhum tipo de informatização. Porém, este dado
não constitui a maior barreira para a utilização do acervo. O
maior empecilho ao uso das coleções está em não existir um
catálogo impresso convencional organizado.

Os dados coletados e tratados das bibliotecas públicas
municipais catarinenses, retratando a realidade e as
possibilidades destas, não querem sugerir uma realidade
pessimista desta instituição de informação e cultura, mas querem
sim, apontar para aqueles profissionais e autoridades do Estado
de Santa Catarina que a agência social de informação e
conhecimento – biblioteca pública municipal do Estado de Santa
Catarina, está longe dos indícios de qualidade e modernidade.

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Santa Catarina State town public libraries

Abstract

This article presents a diagnosis of the Town Public Libraries in the Santa
Catarina State. The methodology applied was investigation of documents and
questionnaires. The data were divided in three categories: the identification,
the collection and the users of the Town Public Libraries. The results showed
that this is still a fragile Institution to attend the community of the Santa
Catarina State.
Keywords: Municipal Public Libraries – Santa Catarina State; Municipal
Public Library – Characteristics; Municipal Public Libraries – Collections
And Users.

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Gisela Eggert-Steindel

Professora no Departamento Biblioteconomia e Documentação
Faculdade de Educação - Universidade do Estado de Santa Catarina

Sueli Ferreira Júlio Oliveira

Professora Colaboradora no Departamento Biblioteconomia e Documentação
Faculdade de Educação - Universidade do Estado de Santa Catarina

Karla Shimigelow

Bolsista PIBIC/CNPq 1999/2-2000/1. Curso de Biblioteconomia e Gestão da Informação
Faculdade de Educação - Universidade do Estado de Santa Catarina
Rev. ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, v. 7, n. 1,  p. 32-50, 2002.