A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA UMA CONTRIBUIÇÃO NA ATUAÇÃO DA DOCÊNCIA EM BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO: UM RELATO

Gisela Eggert-Steindel

Resumo

O presente trabalho tem por objetivo relatar, a partir da extensão universitária um pensar e fazer docência na área de Biblioteconomia. A prática da extensão universitária pode ser um elemento na constituição profissional do docente universitário brasileiro.

Palavras-chave: Biblioteconomia – Extensão Universitária; Docência.

1 INTRODUÇÃO

A Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC no
seu modelo multi campi tem como pressuposto desenvolver
atividades de Ensino-Pesquisa e Extensão nas regiões em que
atua. A Universidade mantém quatro centros em Florianópolis -
Centro de Ciências da Administração/ESAG, Centro de
Artes/CEART, Centro de Educação Física e Desportos/CEFID e
o Centro de Ciências da Educação/FAED. Um centro em Lages,
região do planalto catarinense - Centro de Ciências
Agroveterinárias/CAV e ainda um centro na região norte do
Estado, na cidade de Joinville - Centro de Ciências
Tecnológicas/FEJ.

A docência e extensão universitária, objeto deste artigo,
relaciona-se ao Departamento de Biblioteconomia, do Curso de
Biblioteconomia1 do Centro de Ciências da Educação/FAED.
Sob a coordenação da professora Maria Emilia Ganzarolli,
em 1995, nós então iniciantes na docência universitária;
elaboramos um Projeto de Extensão - O Bibliotecário: Quem
é? O que Faz? - Atuando na formação continuada e
garantindo o direito à informação
, com o intuito de divulgar
conhecimentos acerca do profissional bibliotecário e/ou
atividade bibliotecária, tornando disponíveis informações e
conhecimento sobre a profissão à diferentes segmentos da
comunidade local estabelecendo o entrelaçamento do Ensino x
Pesquisa x Extensão. Nesse texto procuro narrar minha
experiência na atuação do Projeto e como este trouxe um outro
olhar no pensar-fazer uma docência na área de Biblioteconomia
e Documentação.

O professor do Curso de Biblioteconomia no Brasil
aprende o caminho da docência fazendo da sala de aula um dos
espaços de aprendizado. A Lei 4.084 e as Propostas Curriculares
desenvolvidas desde a década de 1960 em nível de ensino
superior, não incluem disciplinas de licenciatura. Os Cursos de
Pós-Graduação na área da Ciência da Informação iniciados na
década de 70 visam a formação de pesquisadores e a prática
pedagógica não é discutida com freqüência nesses Cursos.
Diante deste quadro, acredito que a prática extensionista pode
contribuir para o exercício e aprimoramento neste complexo
caminho em atuar como docente nas diferentes áreas do
conhecimento.

2 A EXTENSÃO NA UNIVERSIDADE

A criação do ensino superior no país foi discutida na
constituinte de 1823. Passados nove anos, fundou-se a escola de
Minas em Ouro Preto, começando a funcionar somente 43 anos
depois. A universidade brasileira - como conceito de universo
do saber - foi instalada no início do século 20 para atender a um
rito de formalidade entre o Brasil e a Bélgica. No ano de 1910, a
visita do rei da Bélgica ao Brasil levou as autoridades a
homenagearem o rei com o título de honoris causa do saber.
Diante da inexistência de uma universidade, a visita e a
homenagem proporcionam a instalação da universidade, no Rio
de Janeiro, introduzindo o nível de terceiro grau no cenário da
educação brasileira.

Passados 50 anos a universidade brasileira sofreu sua
primeira reforma através da lei federal no. 5.540/68. A reforma
resultou no modelo que hoje conhecemos, e com esta estrutura
vem contribuindo na formação de profissionais capacitados e
habilitados nas diversas áreas do conhecimento. A universidade
pública brasileira é responsável por mais de 80% da produção
científica e tecnológica no país e seus benefícios não estão
apenas ligados à produção científica, mas também aos serviços
de extensão prestados à comunidade onde estão instaladas.

Foram os estudantes universitários da década 60 através
de movimentos organizados pela União Nacional de
Estudante/UNE - que empreenderam os primeiros movimentos
políticos-culturais abrindo a atuação extensionista da
universidade pública brasileira. A ditadura militar nas décadas
seguintes encampa este embrião e cria o Projeto Rondom como
serviço de extensão às comunidades, alcançando dois objetivos
circunstanciais: a necessidade de enfraquecer o movimento
estudantil e fazer-se presente nas comunidades pouco assistidas
pelos benefícios das áreas urbanas.

O modelo de extensão assistencialista e paternalista
adotado durante o período militar e mesmo pós ditadura, se
mostrou esgotado ao final da década de 80. Era preciso repensar
uma nova concepção de universidade calcada na redefinição das
suas práticas de ensino, pesquisa e extensão. A prática do
pensamento e da extensão universitária brasileira delineou-se
nos fóruns nacionais de extensão universitária na década de 90
que definiu oito eixos áreas temáticas2: comunicação/ cultura/
direitos humanos/ educação meio ambiente/ saúde/ tecnologia/
trabalho (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA
CATARINA, [2000]).

3 A DIVULGAÇÃO DO PROFISSIONAL BIBLIOTECÁRIO

A falta de divulgação do profissional bibliotecário tem
sido apontada como um sério obstáculo no desenvolvimento e
reconhecimento social da profissão bibliotecária no Brasil. No
entendimento de Rodrigues apud Guimarães e Guarezzi (1994),
a falta de divulgação é uma das principais causas dos problemas
relativos à biblioteconomia brasileira. A literatura da década de
70 já levantava a problemática da falta de divulgação da
profissão. Num trabalho publicado por Targino (1986), é
detectado que o desconhecimento leva à conseqüente
desvalorização da profissão do bibliotecário. Na percepção de
Antônio Miranda: “o homem só ama aquilo que conhece”
(GUIMARÃES; GUAREZZI, 1994).

Nesta linha de atuação o projeto de extensão
desenvolvido pelo Departamento de Biblioteconomia e
Documentação da UDESC, no período de 1995 –1999; priorizou
a divulgação do papel social do profissional bibliotecário, no
eixo temático: educação básica e desenvolvimento da cultura.

As ações iniciais do projeto compreenderam a
divulgação da profissão através de um folder explicativo
produzido por nós, executoras do projeto, dirigido a alunos do
ensino médio (3º ano) em estabelecimentos de ensino público e
privado no município de Florianópolis (SC), os quais foram
previamente selecionados.

O projeto da divulgação profissional assumiu um caráter
de atividade permanente do Departamento, após dois semestres
de trabalho. Nesta nova configuração foram desenvolvidas ações
e metodologias de acordo com o público alvo e possibilidades
em cada semestre.

Assim, foram realizadas desde “oficinas de orientação de
trabalhos escolares” para alunos da 7 e 8 séries do ensino
fundamental, em estabelecimentos de ensino público até a
aproximação, incentivo e gosto pela leitura junto a crianças com
pouco ou nenhum contato com o livro. Todas as atividades
desenvolvidas pelo projeto aconteceram no município de
Florianópolis, capital do estado.

A extensão universitária permite ao professor
experimentar sua pessoalidade na atuação docente como
apontada nas pesquisa na área da educação: a investigação da
história de vida do professor (NÓVOA, 1992). Nesta linha de
concepção Pereira (1996), afirma:
Considero que a formação do professor resulta
não apenas de um treinamento específico, numa
instância acadêmica. tomo em conta, repito a
idéia que a pessoalidade e a professoralidade
deste profissional andam juntas, isto é, ser
professor é uma alternativa, uma saída que o
sujeito constrói a fim de realizar um projeto
emergente em sua subjetividade...
A formação acadêmica vai, em última instância
instrumentalizá-lo, podendo legitimar e
institucionalizar sua escolha.
A extensão universitária pode oferecer possibilidades
para o professor exercer sua professoralidade e pessoalidade
como sugere Pereira (1996). Na professoralidade e na
pessoalidade estão incluídas também as experiências pessoais e
profissionais de cada qual. Iniciei a docência após dez anos de
atuação como bibliotecária em uma empresa: Eletro Motores
WEG S.A e em duas universidades: Centro Universitário
Jaraguaense (SC) e Universidade Federal de Santa Catarina,
Curso de Pós – Graduação em Administração (SC). A carreira
docente, iniciei somente após a conclusão do mestrado pela
Universidade Federal de Minas Gerais, Programa de Pós-
Graduação em Ciência da Informação.

O ser e estar professora tornou-me uma pessoa mais
completa. O amadurecimento pessoal e profissional se dá a
partir da experiência vivida no tempo. Dentre as diferentes
experiências profissionais significativas destaco a vivência
extensionista realizada a partir de 1995.

A prática extensionista constitui-se num marco muito
importante para mim enquanto professora em sala de aula; a
partir dela construiu-se um novo olhar com relação ao aluno e
futuro bibliotecário. Primeiramente a compreensão que o aluno
vem de diferentes universos e não é massa homogênea que está
diante do professor(a), porém - os entornos e os contornos de
cada aluno são específicos quer seja ele proveniente do
estabelecimento de ensino público ou privado. Percebi que
ensinar é estar interessado no universo do aluno e buscar
estratégias capazes de mediar – universo do aluno x conteúdo da
disciplina e para foi preciso mergulhar em outras leituras...

O preparo das oficinas de extensão, a leitura relacionada
ao tema dinâmicas de grupo, constituíram-se numa descoberta
para novas práticas didático-pedagógicas em sala de aula.
Textos voltados para motivação humana, dinâmicas de leitura e
acerca de dinâmicas de grupos são alguns dos recursos-didáticos
utilizados com sucesso em disciplinas como: Metodologia da
Pesquisa em Biblioteconomia/ Metodologia Científica, dentre
outras lecionadas.

O atuar com outros públicos e vivenciar outras dinâmicas a
partir da extensão possibilitou trazer para dentro da sala atitudes
e ações, capazes de criar laços afetivos e cognitivos com o
conhecimento e conteúdos curriculares do Curso.

A literatura, quer nacional quer internacional, foi outra
estratégia de ensino como veio de aproximação com as
disciplinas. Primeiramente forma de estímulo lúdico para a
leitura e depois como meio para ampliação cultural do aluno.
Ela também se mostrou uma estratégia de aproximação e
experiências de leituras: professora x aluno/aluna.

Um último fator ao qual chamo atenção nesta narrativa, é
que, a cada semestre, o professor e o aluno não são - estão os
mesmos: cada qual vive momentos diferentes. Portanto não é
possível utilizar ipsis litteris as metodologias e estratégias a cada
novo semestre; é preciso estar atento - quem é, quem são os
alunos os que estão diante de nós professores/professoras.

A Extensão nos trouxe outros olhares não percebidos
dentro da sala de aula. Sair da sala de aula é introduzir-se em
outras arenas, é perceber que a visibilidade do bibliotecário se
faz numa lenta e longa construção.

NOTAS

1 Atualmente denomina-se Curso de Biblioteconomia – Gestão da Informação.
2 O projeto de extensão quem é? O que faz? - atuando na formação
continuada e garantindo o direito à informação desenvolvido no período
1995/1999 atendia a área temática delineada no fórum nacional de extensão
universitária, 1998: educação básica e desenvolvimento da cultura.
(UNIVERSIDADE CIDADÃ, 1998).

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

ALVES, Rubem. A alegria de ensinar. 6.ed. São Paulo: ARS Poética, 1994.
ALVES, Rubem. Estórias de quem gosta de ensinar. 12.ed. São Paulo:
Cortez: Autores Associados, 1988.
BORDENAVE, Juán Diáz; PEREIRA, Adair Martins. Estratégias de ensino-aprendizagem.
15. ed. Petrópolis: Vozes, 1995.
CONY, Carlos Heitor. Quase memória: quase-romance. 13.ed. São Paulo:
Cia das Letras,1995.
DESLANDES, S. F. Pesquisa social: teoria, método e criatividade.
Petrópolis: Vozes, 1996.
GOLHDOR, H. Pesquisa científica em biblioteconomia e documentação.
Brasília: VIPA, 1973.
LIMA, R. C. M. A biblioteconomia catarinense e a ACB: memórias de uma
bibliotecária. Rio de Janeiro, 1998. 14 fl.(Reprogafia)
MARTUCCI, E. M. A feminização e a profissionalização do magistério e da
biblioteconomia: uma aproximação. Perspec. Ci. Informação, v. 1, n.2,
jul./dez. 1996.
MILLER, N. Aprendendo sobre autobiografia e a pesquisa-ação na educação
de adultos através da colaboração internacional. Inf. Soc.: Est., João Pessoa,
v. 6, n. 1, p. 103-120, 1996.
MOSTAFA, S. P. A produção de conhecimentos em biblioteconomia. R.
Bibliotecon. Brasília
, v. 11, n. 2, p. 221 - 229, jul/dez. 1983.
NÓVOA, António (Org.). Vidas de professores. Portugal: Porto Editora, 1992.
NÓVOA, António (Org.). Vidas de professores. 2.ed. Portugal: Porto Editora,
1995.
OLIVEIRA, Zita Catarina Prates. O bibliotecário e sua auto-imagem. São
Paulo: Pioneira/INL, 1983.
PEREIRA, M. V. A estética da professoralidade: um estudo interdisciplinar
sobre a subjetividade do professor
. 1996. Tese (Doutorado em Educação) –
Departamento de Educação, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
São Paulo, 1996.
SOUZA, Francisco das Chagas. O ensino da biblioteconomia no contexto
brasileiro
. Florianópolis: UFSC, 1990.
SOUZA, F.C. Biblioteconomia, educação e sociedade. Florianópolis: UFSC,
1993.
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Pró-Reitoria
Comunitária. Coordenação de Extensão. Proposta de Sistematização das
Áreas Temáticas. Florianópolis, [2000].
___________

UNIVERSITY COMMUNITY WORK - A CONTRIBUTION IN TEACHING LIBRARIANSHIP AND DOCUMENTATION: A REPORT

Abstract

The article show the univesitary extension as way to be performe whose
choise teacher as profession.

Keywords: Librarianschip; Universitary Extension; Librariang Teaching.
__________

Agradecimentos:

 à professora Maria Emilia Ganzarolli coordenadora e executora do Projeto, integrante direta neste relato de experiência pessoal-profissional.

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Gisela Eggert-Steindel

Professora no Departamento de Biblioteconomia e Documentação - Faculdade de Educação
Universidade do Estado de Santa Catarina
Mestre pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação – Universidade de São Paulo

Rev. ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, v. 7, n. 1, p. 51- 58, 2002.