BIBLIOTECÁRIO ESCOLAR: um educador?

Elisa Cristina Delfini Corrêa

Karina Costa de Oliveira

Laura da Rosa Bourscheid

Lucélia Naside da Silva

Salete de Oliveira

Resumo

Apresenta a biblioteca escolar enquanto suporte didático pedagógico,  enfocando principalmente o papel do bibliotecário no contexto escolar. Compara funções e perfis do bibliotecário e do educador/professor, ressaltando semelhanças e diferenças nos papéis educativos por eles exercidos. Conclui que o bibliotecário exerce atividades educativas em sua profissão diferentes em sua essência daquelas exercidas pelo professor, devendo estabelecer com este uma parceria na qual as atribuições de ambos
se completem a fim de construir um processo de ensino aprendizado eficiente e bem sucedido.

Palavras-chave: Biblioteca Escolar; Bibliotecário Escolar; Educação; Educador.

1 INTRODUÇÃO

    A escola, como disseminadora do conhecimento, é parte fundamental no desenvolvimento do indivíduo. Através do
ensino escolar, são transmitidas noções gerais de história e cultura que servirão de base para toda a transformação que o
indivíduo poderá sofrer e/ou exercer sobre a sociedade. Com o desenvolvimento científico e tecnológico houve uma mudança
na base da sociedade. Vivemos hoje na era da informação e do conhecimento, que se caracteriza pela enorme quantidade de
informação e necessidade de atualização, frente às constantes transformações que se processam rapidamente.

    Para que a escola se adapte a estas transformações, é necessária a utilização de todos os recursos disponíveis, e dentre
estes, se destaca a biblioteca escolar. Esta possui uma clara função sócio-educativa quando integrada ao cotidiano escolar,
sendo uma plataforma de encontro entre professores e alunos na complementação do ensino pedagógico1.

    Para que a biblioteca escolar exerça suas funções de forma adequada e eficiente, sabe-se da necessidade da permanência do
profissional melhor habilitado e qualificado para sua gestão: o bibliotecário. No entanto, a realidade das bibliotecas escolares
brasileiras (especialmente no que se refere às escolas da rede pública de ensino) apresenta um quadro diferente daquele que a
teoria pretende demonstrar. Além das já conhecidas precariedades em termos de espaço físico e acervo, muitas delas
“funcionam” com a presença de profissionais de diversas áreas, principalmente da educação, como professores e funcionários de diversos departamentos da escola, geralmente readaptados e aguardando a aposentadoria.

    Por outro lado, as universidades que oferecem cursos de biblioteconomia e documentação continuam formando
profissionais que, ano após ano, saem para um mercado de trabalho que ainda ignora o vasto campo não conquistado das
bibliotecas escolares. A discussão acerca destas reflexões faz-se urgente e necessária num momento em que esforços advindos de vários segmentos da sociedade e principalmente do estado, são direcionados à formação de uma geração de leitores brasileiros2.

    Sendo assim, pode-se inferir que o fortalecimento das bibliotecas escolares não só permitirá que estes esforços não
sejam desperdiçados ao longo do tempo, como também confirmará um vasto campo de trabalho ainda não explorado
pelo profissional bibliotecário em sua amplitude máxima. No entanto, para que isso aconteça, a biblioteca escolar precisa ser
pensada e discutida nos diversos aspectos causadores da situação de “miséria” em que se encontra. o termo “miséria da
biblioteca escolar” é usado por Silva (1999) em seu livro que discute a questão, classificando em dois grupos os aspectos
acima mencionados:

Extrabibliotecários
Intrabibliotecários
- falta de tradição ou consciência do valor do profissional bibliotecário;
- política cultural que perpetua a dominação de uma pequena elite,
através de uma educação deficiente;
-carência de uma efetiva democratização de bens culturais, o que não privilegia o papel das bibliotecas no país;
-inabilidade para utilizar racionalmente os recursos informativos disponíveis nas bibliotecas;
-organização do trabalho na escola e a atuação dos professores às vezes
inibidoras do uso das bibliotecas;
-ausência de base legal sobre biblioteca escolar no Brasil.

-estrutura da biblioteca: local
inadequado, mal iluminado, acervo pobre, desatualizado e mal organizado, regulamentos rígidos demais, entre outros.
-postura profissional passivo, apático quanto aos usuários e alienado dos projetos da escola ou
extremamente técnico, mais preocupado com aspectos de catalogação, classificação, etc., não alargando as possibilidades de atuação da biblioteca escolar.



    Uma vez que a postura profissional é apontada como um dos fatores que contribuem para a letargia das bibliotecas
escolares, torna-se necessário analisar mais detalhadamente as funções deste bibliotecário e suas ações dentro do processo do
ensino escolar e as atividades exercidas por ele em relação ao contexto pedagógico que o cerca. em muitas escolas de
biblioteconomia no Brasil (em especial menciona-se as de Santa Catarina com cursos oferecidos pela UFSC e UDESC) os
departamentos e cursos de biblioteconomia encontram-se vinculados às faculdades e centros de ciências da educação.
pode-se deduzir deste fato que o bibliotecário tenha a formação de um educador e que vá exercer funções educativas em sua
prática profissional.

    De todos os tipos de bibliotecas e centros de informação e documentação nos quais o bibliotecário pode exercer suas
funções, parece evidente que o caráter educativo deste profissional flui com maior naturalidade no ambiente da
biblioteca escolar. No entanto, que atividades do bibliotecário escolar podem ser reconhecidamente educativas? Suas funções
coincidem com as do professor ou se apenas as complementam?

    Diante de tais questionamentos, este artigo propõe-se a refletir sobre uma questão fundamental que poderá contribuir
direta e indiretamente para o fortalecimento das bibliotecas escolares: o bibliotecário pode ser definido como um educador?
A partir desta reflexão, as funções do bibliotecário escolar poderão ficar mais claras, permitindo que sua atuação
profissional apresente perspectivas que contribuirão para uma nova postura frente às bibliotecas escolares.

2 A BIBLIOTECA ESCOLAR

    Pode-se definir a biblioteca escolar como uma instituição onde estão organizados itens bibliográficos, como também
outros meios, onde estão disponibilizadas as informações, de maneira que satisfaça seus usuários, despertando-os para a
pesquisa e leitura, desenvolvendo sua criatividade e sua consciência crítica.

    A biblioteca escolar é um sistema no qual se encontram acessíveis as fontes de informação, onde estão armazenadas os
registros do pensamento humano dos diferentes séculos, devendo esta atender à alunos, professores e aos demais, que se
fazem presentes no contexto escolar. Destaca-se como importantíssimo instrumento de apoio didático-pedagógico e
cultural, levando em consideração a grande proximidade dela com o processo de ensino-aprendizagem, onde esta necessita
estar inteiramente ligada aos esforços dos educadores e não apenas constituindo um apêndice para a escola.

    Ao definir biblioteca escolar, no entanto, é necessário deixar claro que numa análise mais criteriosa e profunda, podese
concluir que ela na verdade não existe ou, pelo menos, que os conceitos que a definem teoricamente não expõem sua atual
realidade. Neste mesmo sentido Fonseca (1983) comenta: “As bibliotecas escolares deixam de ser estudadas no Brasil porque
não existem e por não existirem, cai sobre elas o silêncio”.

    As bibliotecas do sistema educacional brasileiro vivem um  momento difícil, pois o descaso das autoridades para com estas é
muito grande e a falta de um vínculo que estreite sua relação com a escola também é evidente. É de extrema importância que
se inicie um novo modo de ver a biblioteca escolar, onde esta comece a ser parte ativa do conjunto escolar. A biblioteca pode
ser um instrumento motivador da leitura e pesquisa, auxiliando no ensino, como esclarece Lourenço Filho citado por Silva
(1995):

Ensino e biblioteca são instrumentos complementares [...], ensino e biblioteca não se excluem, completam-se. Uma escola sem biblioteca é um instrumento imperfeito. A biblioteca sem ensino, ou seja, sem a alternativa de estimular, coordenar e organizar a leitura, será por seu lado, instrumento vago e incerto.

    A preocupação com a falta de um elo entre escola e biblioteca é realçada nas palavras de Sanches Neto citado por
Hillesheim e Fachin (1999): “a biblioteca é encarada como um anexo da escola, quando na verdade, ela deveria ser sua alma”.
Nery citado por Duarte (1998, p. 84) especifica o assunto de maneira rápida e simples: “uma escola sem biblioteca é como
um restaurante sem cozinha”. Santos citado por Tosetto e Martuci (2001) enfatiza que “a biblioteca escolar não alcançou
ainda o seu lugar ao sol. Ainda não foi incorporada às atenções primordiais do corpo docente. continua sendo qualquer coisa de marginal ao ensino...”.

    É importante que haja harmonia entre biblioteca e escola, para que juntas possam alcançar seus reais objetivos. O uso de
bibliotecas deve ser incentivado e deve começar o mais cedo possível na vida do indivíduo. Infelizmente isto ocorre
raramente no Brasil: o primeiro contato com a biblioteca escolar é muitas vezes um acontecimento negativo, onde a biblioteca
passa a ser sinônimo de castigos, imposições, proibições e desconfortos, enquanto deveria constituir-se de uma experiência
extremamente positiva.

    O documento que determina os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), pressupõe que o aluno “saiba utilizar
diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos”. Contudo, o que se verifica
na prática é que muitas crianças acabam sendo marcadas por experiências negativas em relação à biblioteca escolar, as quais,
por vezes, são carregadas por toda vida. Targino citado por Silva (1995) ressalta o quanto “é importante que esse contato seja
marcado positivamente, pois as representações que as pessoas tem da biblioteca estão, em geral, impregnadas pelas suas
experiências enquanto usuários”.

    Para bem cumprir seu papel, a biblioteca escolar possui objetivos definidos na bibliografia especializada. a fim de
nomeá-los, quinhões citado por Hillesheim e Fachin (1999) adapta alguns dos objetivos encontrados nas normas da
American Library Association (ALA):

- cooperar com o currículo escolar, no atendimento as necessidades dos alunos, professores e demais membros
da comunidade educacional;
- proporcionar aos usuários materiais diversos e serviços bibliotecários adequados ao seu aperfeiçoamento e
desenvolvimento individual;
- orientar e estimular os alunos em todos os aspectos da leitura, para que encontrem prazer e satisfação crescente,
avaliando-a e criticando;
- acostumar os alunos, desde pequenos, a usufruírem a biblioteca, estimulando-os à leitura, do que decorrerá o
hábito de ler e de consultar bibliotecas;
- participar dos programas e atividades da escola, oferecendo-lhes serviços, bem como desempenhar o seu
papel na operacionalização das propostas curriculares.

    A Organização dos Estados Americanos (1985) cita como principais objetivos:
- contribuir para o cumprimento dos objetivos formulados pelo sistema educacional e expressos através das políticas nacionais;
- contribuir para o alcance de metas qualitativas da educação, oferecendo os materiais solicitados por professores e alunos e proporcionando situações estimulantes para a aprendizagem;
- contribuir para a formação de um leitor autônomo em sua capacidade de seleção, crítico e criativo em relação com a leitura;
- oferecer ao aluno e ao professor fácil acesso à todo tipo de informação e a possibilidade de adquirir a habilidade de conseguir, por si mesmo, as soluções que busca através da observação, da investigação e experimentação;
- formar e desenvolver no aluno e no professor habilidades de busca e uso da informação que facilitem a aprendizagem permanente;
- oferecer a oportunidade de uso do tempo livre através da prática da leitura prazerosa e de atividades recreativas derivadas da mesma, e
- estabelecer as condições que propiciem a valorização da informação científica e tecnológica por parte do professor, facilitando, em primeiro, o acesso a esta e, em segundo, desenvolvendo atividades educativas no uso da mesma.
    Hillesheim e Fachin (1999) ressaltam ainda que os objetivos básicos são:
- ampliar conhecimentos, visto ser uma fonte cultural;
- colocar à disposição dos alunos um ambiente que favoreça a formação e desenvolvimento de hábitos de leitura e pesquisa;
- oferecer aos professores o material necessário à implementação de seus currículos escolares;
- colaborar no processo educativo, oferecendo modalidades de recursos, quanto à complementação do ensino-aprendizagem, dentro dos princípios estabelecidos pela moderna pedagogia;
- proporcionar aos professores e alunos condições de constante atualização de conhecimento em todas as áreas do saber;
- conscientizar os alunos de que a biblioteca é uma fonte segura e atualizada de informações;
- estimular nos alunos o hábito de freqüência a outras bibliotecas em busca de informações e/ou lazer; e
- integrar-se com outras bibliotecas, proporcionando intercâmbios culturais, recreativos e de informações.

    Uma síntese de todos estes objetivos pode ser delineada de acordo com quatro características fundamentais:
- integração do currículo às necessidades dos usuários (alunos, professores e outros membros do contexto escolar);
- ajudar no desenvolvimento de indivíduos críticos e criativos;
- auxiliar no processo de ensino-aprendizagem;
- funcionar em concordância com a política escolar, objetivando o bem estar de seus usuários.

    Estas características levam a biblioteca escolar a exercer, segundo Stumpf e Oliveira citados por Hillesheim e Fachin
(1999), três funções principais:
- função educativa: funcionando como apoio ao desenvolvimento das atividades curriculares objetivando a melhoria do ensino, como instrumento de formação do indivíduo, onde está inserido o papel da educação;
- função cultural e social: onde são disponibilizados os produtos da cultura, como livros, periódicos, etc., que
facilitam a transmissão dos conhecimentos, sua função social se amplia quando a biblioteca abres suas portas
para a comunidade em geral;
- função recreativa/educativa: abre espaço para uma nova concepção do usuário sobre a biblioteca, conduzindo-o para a leitura e pesquisa de forma prazerosa e não por obrigação.

    Assim, a biblioteca escolar deve estar de acordo com estes pressupostos e atender a toda sua clientela, ou seja, todos os
personagens que participam da instituição educacional, na qual está inserida.

    As atividades desenvolvidas pela biblioteca escolar precisam estar de acordo com os interesses de sua clientela,
particularmente dos alunos, o que já pressupõe uma articulação com o trabalho desenvolvido pelo professor. Da mesma forma,
os recursos informativos, devem ser adquiridos e organizados segundo aqueles mesmos interesses, o que indica uma
necessidade de participação da comunidade escolar no que tange à seleção do que vai ser adquirido e a maneira pela qual os
documentos poderão ser organizados, difundidos e explorados pela biblioteca (SILVA, 1995).

    Com base nas considerações feitas até agora, resta refletir a respeito do tipo de profissional que melhor exerceria
atividades que levassem a biblioteca escolar a contribuir efetivamente para o sucesso do processo ensino-aprendizagem.
no caso específico do bibliotecário escolar, qual o perfil exigido deste profissional? seria este um educador em sua essência?

3 O BIBLIOTECÁRIO ESCOLAR E SUAS FUNÇÕES

    O bibliotecário escolar tem como função fornecer a informação de maneira rápida e pratica ao estudante. Para
Tavares (1973) “o bibliotecário deve fornecer a informação rápida, encontrar o material adequado - ir ao encontro do que o
aluno precisa e deseja, são tarefas do bibliotecário”. Por isso ele necessita de uma boa comunicação com os estudantes, deve ser agradável, gostar de servir e ser criativo e responsável, porque do seu trabalho dependerá o resultado das pesquisas dos
estudantes.

    O conhecimento técnico do bibliotecário precisa ser sólido, uma vez que as obras disponíveis na biblioteca escolar
são direcionadas ao estudo e pesquisa dos estudantes e do corpo docente. Além disso, deve contar também com uma organização técnica e prática pois, segundo Tavares (1973) “graças ao trabalho eficiente do bibliotecário é que a biblioteca pode existir. da sua ação, do seu conhecimento, depende a biblioteca para ser dotada e estar preparada para atender as necessidades do aluno.”

    O bibliotecário escolar tem uma tarefa difícil: cativar e conquistar o estudante e fazer com que este se sinta à vontade
dentro da biblioteca escolar. Por isso Douglas (1971) afirma que “o bibliotecário deve compreender as crianças, saber conquistálas, dirigi-las, ter espírito de curiosidade, animação, boa saúde, tato, entusiasmo, energia e saber lidar com adultos tanto quanto com criança”.

    O planejamento e a organização da biblioteca também são funções do bibliotecário. A ele cabe selecionar o acervo e
colocá-lo de maneira mais acessível ao usuário, arrumando a mobília da biblioteca de acordo com a faixa etária atendida para
proporcionar mais conforto e praticidade, ter uma homogeneidade em relação a professores da escola e estudantes,
coordenar o programa de aquisição, proporcionar uma interação com a comunidade, usando toda a sua criatividade nos projetos da biblioteca, além de classificar e catalogar as obras para que a organização fique mais fácil de ser mantida.

    O bibliotecário escolar deve incentivar o estudante a ler e freqüentar a biblioteca, pois segundo Litton (1974) o
bibliotecário deve ser mais humano e mais participativo e comunicativo com os alunos, fazendo com que o estudante tenha
mais prazer em ler e freqüentar a biblioteca. O autor classifica as tarefas do bibliotecário escolar em três grandes categorias:

- Tarefas administrativas:
• planejar e executar do programa bibliotecário;
• selecionar e supervisionar o pessoal de rotina necessário para o movimento do trabalho;
• integrar a biblioteca no programa educativo;
• programar o uso das obras por estudantes e professores;
• divulgar, junto à comunidade escolar, informações sobre seus serviços e recursos bibliográficos.

- Tarefas educacionais:
• ter conhecimento das necessidades de leitura individuais dos estudantes e de seus interesses;
• planejar com os professores diversas formas de integração do serviço bibliotecário com o programa
docente da aula;
• procurar incluir ao serviço bibliotecário um caráter humano e se ocupar das necessidades individuais dos
alunos, no processo de aprendizagem;
• manter-se informado das novidades, métodos e materiais educativos;
• indicar aos professores materiais para seu continuo crescimento cultural e para o enriquecimento geral do
programa docente.

- Tarefas técnicas:
• estabelecer os procedimentos para seleção, aquisição, processamento, preparação e empréstimo de materiais.
• manter uma documentação precisa do material bibliográfico e audiovisual da biblioteca.
• descartar periodicamente os materiais da biblioteca que estão deteriorados, desgastados e desatualizados.
• supervisionar a realização das tarefas de rotina que são necessárias para o bom funcionamento da biblioteca.

    O bibliotecário deve participar da vida escolar de seus usuários, participando do desenvolvimento do programa
educativo que o professor colocará em prática na sala de aula, onde a biblioteca constituirá uma extensão das atividades de
classe, onde o aluno buscará respostas aos questionamentos levantados em sala. através desta parceria os anseios de
incentivo à pesquisa serão atingidos pelo professor, que instiga a formulação de questões em suas aulas, e pelo bibliotecário que
auxiliará na busca de informações que resultem na solução do problema.

    Com seu trabalho, o bibliotecário poderá mostrar o quão importante é o hábito da leitura, tanto para realização de
trabalhos escolares, como também para seu entretenimento, outra função onde o educador e o bibliotecário precisam
trabalhar juntos, para obter o seu pleno sucesso, como afirma Silva (1995) “a tarefa de orientar o aluno na utilização da
biblioteca e, principalmente, o de despertar nele o gosto e o hábito de leitura são as atribuições mais reveladoras da natureza
educativa do trabalho biblioteconômico na escola”.

    O bibliotecário precisa participar ativamente de todos os acontecimentos que circundam o ambiente escolar, bem como
ter conhecimento da política educacional da instituição na qual atua, estando atento a todos os aspectos que envolvem seu
trabalho no contexto escolar, interagindo também através da parte técnica necessária ao bom funcionamento da biblioteca.
Contudo, no contexto escolar, uma atenção especial deve ser dada às atividades de referência. Silva (1995) afirma que “[...]
ao bibliotecário escolar, visto como educador, cabe dedicar-se menos às atividades mecanizadas e muito mais a programas de
incentivo à leitura, junto aos alunos, com o apoio dos outros educadores da escola, como os professores e os especialistas”.

4 O EDUCADOR ESCOLAR

    A fim de analisar se o bibliotecário escolar pode ser definido como um educador, faz-se necessário refletir inicialmente sobre o que é ser educador. a resposta a esta pergunta está intimamente relacionada à definição do termo educar, que é a atividade principal do educador.

    Segundo Gikovate (2001) educar, “[...] corresponde à tarefa de transmitir a cada nova geração os usos e costumes de
cada comunidade, além de tentar transferir o conjunto de valores que prezamos”. O sistema educacional é elaborado pela
sociedade, com leis e diretrizes definidas, a fim de transmitir noções de história e cultura que servirão de base para toda
transformação que este indivíduo poderá sofrer e/ou exercer sobre a sociedade. De acordo com Houaiss e Villar (2001)
educação é: “aplicação dos métodos próprios para assegurar a formação e o desenvolvimento físico, intelectual e moral de um
ser humano”.

    Uma instituição educacional é composta por vários personagens, entre os quais, o educador, que desempenha papel
fundamental, sendo o elo entre a cultura da sociedade e o educando.

    Na práxis pedagógica, o educador, é aquele que, tendo adquirido o nível de cultura necessário para o desempenho de
sua atividade, dá direção ao ensino e a aprendizagem. Ele assume o papel de mediador entre a cultura elaborada,
acumulada e em processo de acumulação pela humanidade, e o educando (LUCKESI, 1994).

    O educador deve possuir formação específica, através da qual adquira conhecimentos e habilidades para auxiliar o
educando no seu desenvolvimento cultural e social, formando um indivíduo crítico e criativo, para melhor contribuir na
evolução do meio em que vive.

    O trabalho do professor não consiste simplesmente em transmitir informações ou conhecimentos, mas em apresentá-los
sob a forma de problemas a resolver, situando-os num contexto e colocando-os em perspectiva de modo que o aluno possa
estabelecer a ligação entre a sua solução e outras interrogações mais abrangentes (EDUCAÇÃO, 2000).

    A motivação e o estímulo à pesquisa e ao questionamento também são deveres do educador, elevando assim o grau de
desenvolvimento e participação desses indivíduos, ajudando a formar cidadãos mais envolvidos com os assuntos do mundo que
os cerca. para desempenhar seu papel na instituição educacional a qual pertence, Luckesi (1994) afirma que o educador deve
possuir algumas qualidades, tais como:

- ter a compreensão da realidade com a qual trabalha, com a sociedade na qual ele atua, para não reproduzi-la de acordo com o senso comum dominante;

- comprometimento político, compreendendo a sociedade em que vive, terá clareza daquilo com que está comprometida sua ação, tendo somente duas opções: ou quer a permanência desta sociedade, com todas as suas desigualdades ou trabalha para que a sociedade se modifique;

- competência no campo teórico de conhecimento em que atua, para desempenhar com adequação sua atividade,
sempre se atualizando e buscando novas fontes de informações sobre sua área;

- competência técnico-profissional, ou seja, deter recursos técnicos e habilidades de comunicação que facilitem a apropriação do que se comunica. O educador necessita possuir habilidades na utilização e aplicação de procedimentos de ensino.

    Completando todas essas qualidades, o educador, antes de tudo tem que gostar de ensinar, estar contente e satisfeito com
sua profissão, sempre melhorando, com sua experiência. “o processo educativo exige envolvimento afetivo. daí vem a ‘arte
de ensinar’, que nada mais é que um desejo permanente de trabalhar, das mais variadas e adequadas formas, para a elevação
cultural dos educandos” (LUCKESI, 1994).

5 CONCLUSÃO

Ao comparar os perfis do educador/professor e do bibliotecário, verifica-se características comuns, aplicáveis a ambas profissões, conforme pode ser observado na síntese abaixo:

1. conhecimento e atendimento às necessidades individuais dos alunos no processo ensino-aprendizagem, bem como
de seus interesses de leitura;
2. atualização a respeito de novidades, métodos e materiais educativos;
3. exercício do papel de mediador entre a informação/conhecimento e seu usuário, possuindo para tal, competência teórica e aptidões profissionais advindas de formação específica para cada caso;
4. motivação e estímulo à pesquisa, despertando no aluno o gosto pela leitura.

    Pode-se concluir que o bibliotecário desempenha algumas funções educativas, contudo diferentes das que um educador
escolar desempenha em sala de aula. sua função educativa concentra-se no sentido de auxiliar a comunidade escolar na
utilização correta das fontes de informação, dando um embasamento para que o educando saiba usufruir esses conhecimentos, também fora do ambiente escolar. ele ensina a socialização, através do compartilhamento de informações, de utilização de materiais e ambientes coletivos, preparando assim o educando no desenvolvimento social e cultural.

    Já o educador/professor deve ultrapassar a transmissão da informação e o uso de materiais informativos, trabalhando
conteúdos com maior profundidade, levando o educando a um conhecimento contextualizado, estabelecendo ligações com
aspectos gerais da vida em sociedade, contribuindo para a formação de cidadãos com capacidade crítica e transformadora.

    Sendo assim, verifica-se a necessidade de um trabalho conjunto entre estes profissionais, onde cada qual lançará mão
de suas aptidões específicas em prol de uma educação mais rica e bem sucedida, como fica evidenciado na declaração
encontrada no Manifesto da UNESCO (1999, p.2) sobre as bibliotecas escolares: “está comprovado que quando os
bibliotecários e os professores trabalham em conjunto, os estudantes alcançam níveis mais elevados de literacia, leitura,
aprendizagem, resolução de problemas e competências no domínio das tecnologias de informação e comunicação”.

NOTAS

1 Muitos são os autores que afirmam o caráter essencial da biblioteca escolar enquanto apoio e suporte às ações didático-pedagógicas. Dentre eles: Válio (1990), Bamberger (1977), Hillesheim e Fachim (1999), Tavares (1973),
FEBAB (1985) e UNESCO (1999).
2 Destaca-se aqui os projetos “Sociedade da Informação”, que leva às escolas computadores de última geração conectados à Internet e provendo acesso a uma gama quase infinita de informações; e “Projeto Nação Leitora”, ambos advindos do Governo Federal.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC, 1997. v. 2
DOUGLAS, Mary Peacock. A biblioteca da escola primária e suas funções. Rio de Janeiro: INL, 1971.
DUARTE, Emeide Nóbrega et al. Bibliotecas escolares nos municípios de João Pessoa-PB: diagnóstico. Informação & Sociedade, João Pessoa, v. 8, n. 1, 1998. p. 80-105.
EDUCAÇÃO: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez, 2000.
FONSECA, Edson Nery da. A biblioteca escolar e a crise da educação. São Paulo: Pioneira, 1983.
GIKOVATE, Flávio. A arte de educar. Curitiba: Sociedade Educacional Positivo, 2001.
HILLESHEIM, Araci Isaltina de Andrade; FACHIN, Gleisy Regina Bories. Conhecer e ser uma biblioteca escolar no ensino-aprendizagem. Revista ACB, Florianópolis, v. 4, n. 4, p. 64-79, 1999.
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
LITTON, Gaston. Bibliotecas escolares. Bueno Aires: Bowker Editores Argentina, c. 1974.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da educação. São Paulo: Cortez, 1994.
ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Modelo flexível para um sistema nacional de bibliotecas escolares. Brasília: FEBAB, 1985.
SILVA, Waldeck Carneiro da. Miséria da biblioteca escolar. São Paulo: Cortez, 1995.
TAVARES, Denise Fernandes. A biblioteca escolar. São Paulo: LISA, 1973.
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School librarian: an educator?

Abstract
The school library and its librarians roles are defined. Teacher’s and librarian’s work are compared in its differences and likenesses. This article concludes that librarians have some educational roles which are, however, essencially different from teacher’s activities. They must work together in order to build a better educational process.

Keywords: School Library, School Librarian: Education, Teacher.
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Elisa Cristina Delfini Corrêa

Professora no Departamento de Biblioteconomia da
Universidade do Estado de Santa Catarina
Mestre em Sociologia Política.
E-mail: correa.net@ig.com.br
Florianópolis – Santa Catarina

Karina Costa De Oliveira

Laura Da Rosa Bourscheid

Lucélia Naside Da Silva

Salete De Oliveira

Alunas da 4ª fase de Biblioteconomia e Gestão da Informação
Universidade do Estado de Santa Catarina
Florianópolis – Santa Catarina
Rev. ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, v. 7, n. 1,  p. 107-123, 2002.