A pergunta que emerge: o que é o conhecimento? O conhecimento é um ativo intangível, e na gestão do conhecimento, este pode ser categorizado em tácito ou explícito. O conhecimento tácito é aquele que está presente nas pessoas. É adquirido através da experiência, da prática, da vivência, enfim é a capacidade de se por em prática conhecimentos teóricos, adquiridos ao longo da vida, ou de uma atividade profissional. Já que este ativo é peculiar de cada pessoa, é, portanto, difícil de ser explicitado. Vale destacar que o conhecimento explicito é o maior desafio das organizações, transformar o conhecimento tácito em explícito, e conseqüentemente organizá-lo para torná-lo disponível.
A vantagem das organizações que tem como matéria prima o conhecimento, é que este diferentemente de um ativo tangível, como o plástico, por exemplo, que diminui na medida em que é utilizado, o conhecimento só aumenta quando é utilizado, dividido ou compartilhado. Desta forma é um recurso infinito, que pode trazer grandes vantagens, principalmente em longo prazo.
A gestão do conhecimento tem um caráter interdisciplinar, que envolve profissionais de diversas áreas: administração, computação, ciência da informação, educação, etc. Envolvendo disciplinas de organização, tecnologias de informação, comunicação entre outras. As quais devem estar muito bem articuladas para que a gestão funcione efetivamente.
Neste sentido o profissional
bibliotecário pode ser um membro de grande importância, ou
até mesmo indispensável para a gestão do conhecimento,
principalmente aqueles que possuem habilitações diferenciadas
da formação convencional como, por exemplo, a habilitação
em gestão da informação, suas disciplinas de organização
e de administração podem contribuir e muito para o processo
de explicitação do conhecimento, peça chave na gestão
e organização do conhecimento.
Este profissional é
habilitado para lidar com a informação, incluindo sua aquisição,
organização e disseminação, precisa se aprofundar
e fazer isto também com o conhecimento. Certamente serão
necessárias outras habilidades além da representação
de dados e informações.
A proposta deste artigo é, portanto discutir como o profissional bibliotecário pode contribuir para a gestão do conhecimento dentro das organizações, e quais metodologias ele pode lançar mão para lhe ajudar neste processo.
Sveiby (2001) destaca também,
que no Japão desde 1980 haviam a preocupação com os
temas de inovação e conhecimento. Desta maneira conduzindo-o
na observação da pouca valorização dos ativos
intangíveis, pois isso não estava descrito nos balanços
das organizações. Neste estudo destacaram-se os autores Nonaka
e Takeuchi.
Enquanto isso na Suécia,
com base nas observações de Sveiby (2001), as preocupações
com medições estratégicas, conduziram a formação
de estratégias baseadas em competência, o que invariavelmente
depende do conhecimento dos funcionários das organizações,
o que levou uma abertura para a gestão do conhecimento.
Deste então os estudos
nesta área não param de crescer, cada vez mais vem surgindo
aplicações na área de gestão do conhecimento.
As empresas vêm se conscientizando principalmente no Brasil, em que este campo é mais recente, que é importante que seja desenvolvido uma postura voltada para o aprendizado com foco na aquisição, armazenagem, processamento e, principalmente na disseminação e uso da informação e do conhecimento. (SANTOS, 2005c).
A gestão do conhecimento tem como principal aplicação a competitividade de acordo Teixeira Filho (2000), e é sob a ótica da vantagem competitiva que a implantação da gestão do conhecimento nas organizações deve ser avaliada. A relação entre gestão do conhecimento e inteligência competitiva passa por diversos aspectos: pessoas, processos, tecnologias e informação e deve ser trabalhada sob o ponto de vista da geração, preservação e disseminação do conhecimento.
Segundo Teixeira Filho (2000), existem alguns casos na iniciativa privada, na maioria das vezes transnacionais que utilizam o modelo de seu país de origem, como a Andersen Consulting, Ernest & Young etc. e as empresas da área de tecnologias da informação como a IBM, Unisys e Microsoft. Já na área governamental a principal iniciativa é do INT – Instituto Nacional de Tecnologia, mas outros exemplos podem ser citados, como o Sebrae, Ministério da Ciência e Tecnologia entre outros.
Dentre os aspectos de gestão do conhecimento, observa-se que o conhecimento diferentemente dos ativos tangíveis cresce à medida que é utilizado e compartilhado. “[...] o conhecimento é em alguns aspectos o oposto do capital, porque o conhecimento compartilhado cresce, enquanto o conhecimento não utilizado se deteriora”.(SANTOS, 2005c.)
Mas, para que o conhecimento flua dentro da organização, e para que a gestão do conhecimento funcione efetivamente é necessário criar um ambiente favorável “[...] para enxergar uma organização do conhecimento, os executivos devem procurar ver as organizações como se elas fossem constituídas de estruturas de conhecimento e não de capital”.(SANTOS, 2005c.).
Nonaka e Takeuchi (1997, apud. SANTOS, 2005a) afirmam que se os investimentos em P, D & E começarem a ultrapassar os investimentos em bens de capital, pode-se dizer que a empresa esta começando a deixar de ser um local onde se produz, para ser um local onde se pensa.
Desta forma pode-se perceber que a implantação da gestão do conhecimento requer o trabalho em equipe e esta equipe deve estar muito bem articulada com toda a organização. Pois, o conhecimento passa por quatro modos de conversão, é o ciclo da GC segundo Nonaka e Takeuchi (1997):
-Socialização: processo de compartilhamento de experiências;Assim se dá o espiral do conhecimento com o objetivo de compartilhar o conhecimento tácito, “a conversão do conhecimento individual em recurso disponível para outras pessoas é a atividade central da empresa criadora de conhecimento”. (NONAKA, 2000, p. 32).
-Externalização: processo de articulação do conhecimento tácito em conceitos explícitos pode se dar através da escrita, por exemplo;
-Combinação: é onde ocorre a sistematização de conceitos de um sistema de conhecimento, ou seja, a associação de conceitos;
-Internalização: trata da incorporação do conhecimento explícito em tácito, assegurando a expansão da experiência prática.
A gestão do conhecimento
envolve diversas atividades inerentes aos denominados “analistas de informação”,
atividades estas que podem muito bem ser realizadas por bibliotecários,
pois segundo Teixeira Filho (200), a estruturação de glossários
e a indexação de conteúdos estão dentro dos
passos para a implantação da gestão do conhecimento,
e este processo é uma excelente oportunidade de mapear o vocabulário
e os conceitos existentes na instituição, além disso,
o bibliotecário porque já está habituado com este
tipo de atividade. As equipes de analistas de informação
devem estar aptas a modelar, pesquisar fontes de informação,
especificar, contextualizar e estruturar conteúdo, é o corpo
do trabalho de gestão do conhecimento, neste sentido a equipe de
analistas deve ser muito bem formada para o sucesso da gestão.
Mas a gestão do conhecimento
não se dá através de uma única equipe, ela
deve fazer parte da rotina de todos os membros da organização,
pois o conhecimento está em cada um dos funcionários e a
proposta é transformar o conhecimento individual em conhecimento
empresarial.
Neste sentido Davenport e
Prusak (1998) destacam que são poucos os funcionários capazes
de estruturar o seu conhecimento, e os que têm tempo para colocar
este conhecimento em um sistema de gestão do conhecimento. Portanto,
as empresas precisam de pessoas capazes de extrair conhecimento de outras
pessoas (funcionários e colaboradores), e colocar este conhecimento
de forma estruturada para mantê-lo ou aprimorá-lo ao longo
do tempo.
Ainda segundo Davenport
e Prusak (1998) as organizações estão renomeando os
seus funcionários, os bibliotecários estão sendo chamados
de gerentes do conhecimento, pois em muitos casos a biblioteca se transforma
em central do conhecimento.
Para exercer as suas habilidades na gestão do conhecimento o bibliotecário, pode se utilizar de metodologias existentes e utilizadas ou pesquisar outras como o CommonKads. O CommonKads é uma metodologia de diagnóstico para gestão de conhecimento.
Diante disto, vale a pena lutar por este espaço de atuação profissional da informação, mostrando, e mostrar as capacidades que o profissional da informação tem para se tornar um importante corporativo na gestão do conhecimento, além disso se faz necessário estudar técnicas que auxiliem a representação do conhecimento e principalmente a sua aquisição que é o grande desafio da gestão do conhecimento.
Cabe alertar as instituições
de ensino de biblioteconomia para tratarem deste novo enfoque na formação
do profissional da informação inserindo a gestão do
conhecimento como disciplina.
Keywords: Knowledge
management; Librarian; Knowledge Society.
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Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.11, n.1, p. 75-82, jan./jul., 2006.