O MEMORIAL ANTONIETA DE BARROS COMO VEÍCULO DE DISSEMINAÇÃO E PRODUÇÃO DA INFORMAÇÃO

Andréia Sousa da Silva

Elaine Rosangela de Oliveira Lucas

Resumo: Boa parte das fontes de informação sobre as populações de origem africana encontra-se ainda dispersas por diferentes acervos de Santa Catarina, algo que dificulta e inviabiliza o trabalho dos pesquisadores e demais interessados em conhecer aspectos culturais, sócio-econômicos e educacionais. O Memorial Antonieta de Barros visa preservar a história e memória dos afrodescendentes através das suas ações. Relaciona a história com a memória, reforçando-a como um produto da história que transforma tudo pois possibilita ao ser humano a (des)construção de identidades dos grupos sociais. Por fim, a disseminação da informação que usa meios que buscam atender as necessidades dos usuários com o intuito de permitir um melhor atendimento visando um único resultado: fornecimento das informações relevantes sobre a temática para produção do conhecimento dando continuidade e fortalecendo a história e memória dos afrodescendentes em Santa Catarina e no Brasil.
Palavras-chave: História e memória; Disseminação da informação; Multiculturalismo.
 

1 INTRODUÇÃO

Sendo Centro de Referência, o Memorial Antonieta de Barros tem como finalidade procurar localizar, catalogar, registar, recuperar e disseminar informações sobre a história e memória dos afrodescendentes em Santa Catarina, através de fontes primárias e secundárias, com o intuito de facilitar o acesso aos interessados (e também despertar interesse) sobre a temática para incrementar as suas atividades científicas estimulando assim a produção do conhecimento.

Justifica-se como veículo que tem a capacidade de atender a pesquisadores, estudantes da rede pública e particular de ensino médio e superior, envolvidos no processo de desenvolvimento da visibilidade da história e da memória das população de origem africana em Santa Catarina.

Para colocar em questão o verdadeiro papel do Memorial como veículo de Disseminação Seletiva da Informação e sua importância para a preservação da história, cultura e memória dos afrodescendentes, foi elaborada uma pesquisa descritiva, ou seja, descrição do Memorial, das suas atividades, por meio da observação e do levantamento de dados, com caráter explorativo onde a ênfase foi qualitativa. Por meio de uma observação participante e individual e a aplicação do questionário, o estudo de caso aplicado serviu para saber, aproximadamente, quantas pessoas existem interessadas nos estudos afro brasileiros e como elas buscam suprir as suas necessidades a respeito. Além disso apresentou as características do público alvo (usuários reais e potenciais), buscando conhecer a(s) forma(as) como os usuários buscaram, encontraram e usaram as informações disponíveis através do Memorial e seus efeitos.

Este artigo se inicia referindo-se ao histórico do Memorial Antonieta de Barros, ao que vem a ser um centro de referência e às suas atividades. Em seguida, realiza um paralelo traçado entre a questão da memória, do documento, da história e o próprio Memorial.

Dando seqüência, deu-se ênfase a DSI - Disseminação Seletiva da Informação, o que é e como as ações do Memorial trabalham com isso, não deixando de lado a questão de como essas informações são recuperadas, além da preocupação em verificar a eficácia dos suportes  usados para a disseminação da informação e as suas conseqüências.

Vê-se que o Memorial Antonieta de Barros, como um Centro de Referência com caráter histórico sócio- econômico de suma importância, é um mecanismo que favorece a racionalização na obtenção da informações para pesquisas afro brasileiras proporcionando, assim, a preservação da história, memória e cultura das populações de origem africana através da produção do conhecimento das mesmas.

2  MEMORIAL ANTONIETA DE BARROS: Centro de Referência

O sul do Brasil, Santa Catarina em especial, é visto como um pedaço da Europa em nosso país. O resultado desta construção cultural tem sido a invisibilidade da presença de uma variada gama de outras experiências étnico-culturais. Construídas como não existentes, as populações afrodescendentes, suas práticas culturais, seus problemas sociais, não são apreendidas e, logo, não se constituem em objeto de políticas públicas nos diferentes níveis do Estado.

Na contrapartida, está o Núcleo de Estudos Afro Brasileiros – NEAB que através do programa Memorial Antonieta de Barros, foi pensado para potencializar os diferentes apoios conquistados e ampliar, coordenar e consolidar várias atividades de disseminação e produção de informações, dando visibilidade à presença dos fatos que giram em torno da história e da memória das populações afrodescendentes  em Santa Catarina e possibilitando o acesso à informações da sua verdadeira importância na história brasileira que favorece o fortalecimento de tais identidades.

O Memorial surgiu no ano de 2000, com pesquisadores que faziam parte do Grupo de Pesquisa Multiculturalismo, para ser um centro de referência com mecanismos que pudessem preservar a cultura, memória e história da população de origem africana no estado de Santa Catarina, além de aproximar trabalho acadêmico com atividades realizadas por instituições civis que tenham os mesmos objetivos tornando-se um veículo de disseminação dessas informações. Como nome, nada melhor do que homenagear uma professora, jornalista, escritora e primeira deputada negra do Brasil: a catarinense Antonieta de Barros.

Por estarem dispersas as informações sobre os afrodescendentes catarinenses em diferentes acervos da Grande Florianópolis, o que dificulta, ou mesmo inviabiliza o trabalho dos pesquisadores, bem como da comunidade escolar e demais interessados em conhecer aspectos culturais, sócio-econômicos e educacionais, o Memorial visa dar continuidade aos métodos de pesquisa, tratamento e disseminação dessas informações

Daí vem a pergunta: mas como seria um Memorial, um centro de referência? Segundo Badke ( 1986, p. 112) “centro de referência procura registrar, catalogar e localizar fontes primárias e secundárias necessárias ao incremento das atividades científicas e tecnológicas”. Sendo assim, o Memorial Antonieta de Barros tem como principais objetivos estimular a produção de estudos acerca das experiências históricas e educacionais das populações afrodescendentes em Santa Catarina, proporcionar ações comunitárias que contribuam para a ampliação da cidadania dos afrodescendentes, elaborar atividades voltadas para a preservação do patrimônio histórico, artístico e cultural, e aproximar o trabalho acadêmico das atividades realizadas por instituições civis que tenham por objeto as populações afrodescendentes;

Através da Biblioteca de Referência, o público, que já freqüentava o Núcleo de Estudos Afro Brasileiros – NEAB/UDESC percebeu a importância da disponibilidade no Núcleo de obras que não se encontram com facilidade nas principais bibliotecas universitárias e públicas, como por exemplo obras relacionadas às políticas de ações afirmativas e monografias que retratem a história do negro em vários aspectos.  Desta forma, buscou-se ampliar e continuar a organização do acervo devido ao aumento da demanda. Foram realizados pedidos de doação e compra a entidades e editoras especializadas que publicam obras relacionadas aos estudos afro brasileiros, à diversidade étnica, ao multiculturalismo, etc; além de fortalecer elos com pessoas que tinham em seus acervos obras destes tipos de informações e que conseguiam com facilidade adquirir essas obras e também com os próprios escritores, no que se refere a literatura cinzenta.

Utiliza-se métodos de DSI toda vez em que se aumenta o acervo, ou seja, toda vez que são feitas novas aquisições. É divulgado nas listas de discussões e grupos do NEAB, além de e-mails dos usuários e no próprio Núcleo, listas contendo o título, autor e número de exemplares disponíveis na biblioteca. Além disso, é feita uma atualização periódica da quantidade de obras da biblioteca de referência do NEAB.

A existência desta biblioteca vem consolidar e facilitar o acesso a pesquisadores e demais interessados sobre as temáticas já citadas, devido a toda dificuldade que essas pessoas passam para encontrar obras e/ou informação que auxiliem no seu processo de aprendizagem e consequentemente na produção do conhecimento. Hoje existem usuários cadastrados na biblioteca que utilizam freqüentemente a biblioteca, são usuários da rede pública e particular, do ensino médio e superior (graduação e pós graduação), além dos usuários que acabam realizando somente consulta local e com freqüência variada.

A outra ação do Memorial é a Base de Dados Afro Ilha. Criada para armazenar informações extraídas de documentos históricos do final do século XIX, sobre os vários momentos da vida dos afrodescendentes em Santa Catarina, mais precisamente em Florianópolis, esta base tem aspecto referencial o interessado vai ao NEAB e realiza a sua pesquisa. Os documentos foram pesquisados em diversos centros de documentação da Grande Florianópolis. São eles: Cartório Kotzias, Cúria Metropolitana, Arquivo Público Estadual, Tribunal de Justiça e Biblioteca Pública Estadual. Em cada centro, foram pesquisados, selecionados e coletados certos documentos. Foram  pesquisadas, transcritas e fotografadas cartas de alforria, cartas de vendas e locação de serviços de escravos, certidões de nascimento, de casamento e de batismo de escravos e alforriados e, além disso jornais da mesma época que  retratavam momentos de algum escravo reportagens ou artigos de classificados.

O Multiculturalismo de eventos de extensão vem também na mesma linha: o de fortalecedor da visibilidade da existência dos afrodescendentes em Santa Catarina, promovendo durante todo o ano palestras, oficinas, cursos que envolvam a história e cultura dos africanos e afrodescendentes brasileiros. Por fim está o Portal Multiculturalismo que surgiu como mecanismo de busca e preservação dos  diferentes aspectos que dizem respeito a temática do NEAB. Como disseram Fragosso e Blattmam ( 2003, p.36) “a internet como nova cultura de mídia digital revela-se um interessante instrumento multicultural”. Neste encontra-se as fontes da Biblioteca Virtual, alguns documentos transcritos no Acervo, eventos promovidos e informações que dizem respeito ao Grupo de pesquisa Multiculturalismo, além de informações dos outros programas do NEAB.

2.1 A Historia e Memória

O Memorial – como local da memória - visa buscar o passado, a memória dos afrodescendentes, procurando as origens e a identidade étnica. Buscando no dicionário Houaiss (2001, p.1890) memória coletiva nada mais é que “conhecimento misterioso que um grupo de indivíduos tem de algo e que se supõe inerente a esse grupo”. Essa memória é de extrema importância pois retrata as várias informações que dizem respeito ao coletivo e por isso não devem ser esquecidas. Para fortalecer isso, Le Goff ( 1997, p.426  ) diz que:
(...) a memória coletiva foi posta em jogo de forma importante na luta das forças sociais do poder. Tornarem-se senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, grupos, indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas. Os esquecimentos e os silêncios da história são revelados desses mecanismos de manipulação da memória coletiva.
No caso dos afrodescendentes, sejam eles em Santa Catarina ou no resto do Brasil, tiveram eles suas memórias massacradas, esquecidas durante anos e consequentemente, reflete a atual condição da preservação da vida, de tudo que o africano trouxe. No caso do Brasil, desde a sua vinda para a América durante a fase de construção (e escravidão) do país.

A partir destes pontos, é perceptível a importância do Memorial Antonieta de Barros: o resgate dos valores, costumes, história e memória dos afrodescendentes em Santa Catarina, um Estado em que os africanos e seus descendentes ajudaram a construir mas devido a toda discriminação racial e opressão européia, foram excluídos e esquecidos.

A memória nada mais é que o resgate de fatos ligados a um indivíduo. Quando esse indivíduo traz à tona um fato que aconteceu com alguém ou com pessoas ligadas a ela, consequentemente ela estará fortalecendo as suas identidades. Janotti e Rosa (apud BENJAMIM, 1995, p.122) diz que “o historiador verdadeiramente atento ao passado não distinguem grandes e pequenos acontecimentos, mas leva em conta o pressuposto de que um dia aconteceu pode ser perdido ou negligenciado”.  E as mesmas autoras (1995, p.122) ainda dizem que “se a memória pode ser preservada ou esquecida por interferências ideológicas, isto também pode ocorrer por uma questão de método e de forma de tratamento das fontes”.

Reforçando o que as autoras afirmam, a memória é preservada, conservada se as informações, as fontes não sofrerem nenhum tipo de descaso. Infelizmente, no caso da história dos afrodescendentes isso aconteceu e repercute até hoje. Devido a toda opressão a memória afrodescendente não teve a sua merecida atenção e importância e como a memória que é trabalhada no Memorial Antonieta de Barros é a do documento escrito, Le Goff (apud GODOY, 1996, p.433) afirma que a escrita neste tipo de documento tem função de armazenamento, que possibilitará a comunicação através do tempo e do espaço, fornecendo ao homem a memória e o registro.

A memória é tão importante assim? Sim, porque permite analisar todo o contexto da história pois ela traz os fatos do passado. Além de analisar todo o passado, permite dar o maior sentido dos fatos presentes, aos grupos sociais, aos indivíduos e as suas existências e permanências. Fortalece as identidades!

2.2 Como veículo de Disseminação da Informação

Para falar sobre Disseminação seletiva da informação, é melhor começar descrever o profissional que executa esse tipo de ação: o profissional da informação, o bibliotecário.

Este é um profissional que apresenta toda uma característica sócio-técnica e por isso exerce é considerado um profissional que detem, dentre outras funções, o poder de  intervir na sociedade, de ser um profissional mediador no processo de construção do conhecimento. Por isso ele deve fazer de tudo para que o cidadão tenha em suas mãos a informação de todo tipo, a informação que venha a ser de extrema relevância para o seu desenvolvimento. E a disseminação, onde entra nisso tudo?

A disseminação da informação não pode ser neutra. A partir de um estudo do usuário, o profissional da informação sabe que tipo de informação deve ser disseminada. Alguns autores identificam a evolução da importância da informação, afirmando que no inicio do século XX, devido à grande produção desta, fez com que os bibliotecários não difundissem  somente o incentivo à leitura, mas, também, começassem a se preocupar com a  filtragem das informações, envolvendo processos de busca, coleta e seleção das informações. Daí, surgiu a disseminação seletiva da informação, quando o bibliotecário apresenta uma posição relevante ao seu usuário, no sentido de saber o que a ele interessa e procurar trabalhar em cima disso utilizando todos os processos anteriores e o que se relaciona a DSI.

Para isso o profissional deve saber utilizar suportes físicos, usar e abusar dos mecanismos da tecnologia e da comunicação, mas não deixando de disseminar as informações que não se encontram nesses suportes, pois o que está sendo defendido é que a informação deve e tem que ser disseminada, independente da forma. A informação oral, por exemplo, não deve ser desprezada. No entanto, deve-se estabelecer meios para que se possa verificar a veracidade dos fatos.

Voltando ao ser bibliotecário, na literatura atual, é verificado quais são os papéis desse profissional.  Ele pode ser um promotor de leitura, agente de mudança, mediador da informação, agente cultural e até educador. O que deve-se observar é que, por mais que este profissional tenha esses papéis, ele não deixará de ser nunca um agente que dissemina as informações, que desenvolve meios para que o cidadão possa obter o que realmente deseja, que possa suprir as suas necessidades informacionais e que, consequentemente, possa aumentar os seus conhecimentos. O que o bibliotecário jamais deverá fazer é dar informação somente para as pessoas que fazem parte de pequenos grupos exclusivos, e sim difundir meios para que toda a grande população possa adquirir informações como todo e qualquer cidadão. É o que reza a Constituição brasileira, que todo cidadão brasileiro tem direito a informação. Sobre isso, Barros (2003,p.39) diz que  “a aptidão do profissional vai até onde vai a excelência da sua formação básica e da educação continuada; o resto corre por conta da capacidade de criar e administrar bons projetos”.

Este é o caso do Memorial Antonieta de Barros. Por mais que os seu público alvo seja composto por estudantes e pesquisadores de nível médio e superior, da rede pública e privada, o Memorial também se preocupa em disponibilizar à população informações da sua temática. Como? Através de um de seus sub projetos, o Multiculturalismo de Eventos de Extensão que promove palestras, oficinas, cursos, eventos itinerários que chegam as comunidades locais (escolas que apresentam um número significante de alunos matriculados e que há a presença da comunidade) para aqueles interessados em saber um pouco mais sobre os  afrodescendentes,  sobre as sociedades africanas e as influências na sociedade atual. A divulgação dessas atividades chega à mídia pela Universidade do Estado de Santa Catarina, ultrapassando seus muros e chegando às mídias populares. Mas essa é uma das formas como são disseminadas as informações referentes à história dos afrodescendentes em Santa Catarina e no Brasil.

Disseminar seletivamente a informação surgiu há uns 40 anos, tendo um caráter  personalizado oferecido ao interessado de acordo com o seu perfil, ou seja, fornecido ao usuário de acordo com o seu perfil e com a sua linha de pesquisa, preenchendo as lacunas das necessidades mais imediatas do mesmo proporcionando assim uma recuperação da informação mais precisa lhe poupando tempo no momento de seleção das informações pesquisadas.
Para que haja essa economia de tempo na busca da informação mais relevante, o profissional da informação precisa indexar de forma adequada e eficiente as informações para que a recuperação da informação seja de acordo com o que foi citado anteriormente, pois garante a relevância da mesma, ou seja, utilizando estratégias eficazes de busca aumentando as chances de  se recuperar a informação e com isso a obtenção de resultados relevantes ao interessado. Para que isso aconteça de forma satisfatória, deve-se realizar avaliações de todo o sistema, ou melhor, dos serviços de DSI, daquele que dissemina e daquele que adquire a informação.
Visto dessa forma, essa pesquisa buscou identificar os usuários do Memorial, as suas necessidades de informação, como eles as buscam (métodos e suportes) e se suas necessidades são supridas A seguir, o resultado desta pesquisa, apresentando o Memorial e suas atividades de disseminação da informação.

2.3  O  usuário e o Memorial – A Pesquisa

A pesquisa foi realizada com o intuito de identificar os usuários do Memorial Antonieta de Barros, além de verificar como conheceram as atividades do Memorial, das suas necessidades de informação e como eles adquirem as informações que desejam. Foram aplicados questionários e respondidos por 7 dos 20 usuários cadastrados na Biblioteca de Referência do NEAB, ou seja, aproximadamente 35% dos usuários contribuíram para a pesquisa. Além disso, durante todo o período compreendido para a realização da pesquisa, foi realizada um observação participante que consistia na intermediação entre o usuário e a informação, ou seja, o processo que compreende a necessidade e a obtenção da mesma pelo usuário.

A partir da análise, foi constatado que dos usuários aproximadamente 99% (apenas um é estudante da rede privada) são estudantes da rede pública do ensino superior. Desses usuários, apenas dois são estudantes de pós-graduação e professores da rede de pública de ensino fundamental e médio. Os questionamentos seguintes referiam-se aos meios como esses usuários tomaram conhecimento das ações do Memorial, quais objetivos os levaram ao mesmo, quais são as suas necessidades de informação, de que forma as obtêm; quais suportes utilizam mais e que tipo de informação e/ou suporte o Memorial poderia oferecer aos seus usuários.

Permanecendo na questão usuário, observa-se que são alunos da rede pública de ensino, visto que o próprio NEAB está dentro de uma instituição pública e que a maioria desses usuários são da própria UDESC. Esses usuários já chegam ao NEAB com as suas necessidades prontas, ou seja, já sabem o que desejam e a bolsista que coordena as atividades do Memorial Antonieta de Barros não tem muita dificuldade em atender as necessidades dos usuários. Os assuntos mais procurados são história e memória afro-brasileira e história da África, coincidentemente devido a sua relação e também uma certa dificuldade que esses usuários, ou melhor, estudantes e pesquisadores, têm em encontrar fontes desses tipos de informação. Existem hoje no Brasil varias editoras especializadas nos temas citados, no entanto há a dificuldade em encontrar suas obras que geralmente se encontram em grandes livrarias (que cobram caro pela obra) ou em livrarias especializadas que estão localizadas nos grandes centros brasileiros de produção deste tipo de informação.

Ficou constatado também que além desse tipo de informação história e  memória afro brasileira e da África o interesse por obras que tivessem informações sobre educação, literatura afro brasileira e ações afirmativas é considerável. Por meio do controle de empréstimo usado pela biblioteca e pela observação participante, (além do próprio questionário) ficou constatado que os usuários buscam e bastante fontes que contenham estes tipos de informações. E o motivo? Os mesmos usados anteriormente para justificar a busca por qualquer que seja a informação desejada pelos usuários do Memorial. Apenas dois usuários ressaltaram que a biblioteca (em especial) deveria ter no seu acervo obras sobre a geografia africana e livros infanto-juvenis que trouxessem os contos africanos.

E como esses usuários obtêm as informações que desejam? Uma questão apresentada no questionário, perguntava ao usuário de que forma ele obtêm as informações. Todos os usuários, em primeiro lugar, citaram a Biblioteca de Referência como o principal meio de busca de informação. Em segundo lugar o Portal Multiculturalismo e por último - como algo que precisam mas utilizam muito pouco - a base de dados e a participação em oficinas, cursos e palestras. Mais uma vez fica constatada que a biblioteca, como uma unidade principal que a sociedade tem de se encontrar a informação que deseja, é a forma que os usuários mais obtêm informações. O Portal Multiculturalismo é utilizado por atender algumas necessidades, as mais imediatas como, por exemplo, a transcrição de documentos históricos que retratem fatos da vida dos afro-descendentes em Santa Catarina. No entanto, dois usuários deram sugestões: que ele pudesse fornecer dados estatísticos e informações sobre os eventos que o NEAB promovem e os que participam. Apenas dois usuários não utilizam o Portal para buscar o que deseja e um porque não encontra o que deseja obter.

Referentes aos suportes, os mais utilizados são os livros. Em segundo lugar, vem as obras de referência e, em terceiro, as revistas e obras da literatura cinzenta. Isso só vem fortalecer um paradigma que por mais que haja meios eletrônicos de informação, os usuários ainda preferem os impressos. Talvez pela fácil acessibilidade e custo, talvez porque a maioria das fontes de informação disponibilizadas pelo Memorial sejam impressas, tanto que  99% dos usuários do Memorial dizem que esses suportes atendem as suas necessidades, mesmo que tenham outras.

E por mencionar em outras necessidades, os usuários pesquisados apresentaram outras necessidades. Já que o Portal, é um dos serviços de DSI do Memorial, deveria ter boletim informativo on-line para que seus usuários reais e potenciais tivessem as informações mais recentes ao seu alcance, além de registros de eventos promovidos pelo NEAB e eventos em que os membros do Núcleo tenham participado, trazendo a importância dos mesmos, que a biblioteca de referência tivesse obras da literatura infanto-juvenil sobre a temática e contos africanos. Isso também aumentaria o público alvo favorecendo a criação da demanda. Mais obras que trouxessem informações sobre a memória afro-descendente e sobre sociedades africanas.

Todavia, viu-se que há uma preocupação do usuário em querer fazer com que esses mecanismos de DSI sejam aprimorados e preservados.

3 CONCLUSÃO

De uma maneira geral, os chamados Memoriais armazenam, resguardam informações, de todos os tipos, de um determinado grupo social, com a finalidade de preservar a identidade cultural e social do mesmo.

Desta forma, o Memorial Antonieta de Barros vem contribuindo para o fortalecimento da presença da cultura, história e memória dos afrodescendentes em Santa Catarina, através de suas ações memorialistas. Percebe-se que o Memorial ainda tem muito o que oferecer aos seus usuários.

Depois da análise (estudo e pesquisa) realizada sobre as ações do Memorial, observou-se que cada ação pode (e deve) ter suas atividades ampliadas, ou seja, meios que aumentem a facilidade dos usuários encontrarem o que desejam. A biblioteca de referência apresenta um bom acervo, que atende a demanda mas que deverá ter outros tipos de informação, ou seja, procurar disponibilizar obras que atendam as outras necessidades dos usuários. Além disso, o seu acervo necessita de um tratamento informacional, ou melhor, que o acervo tenha um tratamento adequado (indexação, catalogação, classificação) para que as informações sejam recuperadas de forma mais eficiente e rápida. Devido ao aumento considerável e rápido do acervo, deveria ser implantado um mecanismo automatizado da informação e para isso uma pessoa adequada, que saiba utilizar o mesmo e saiba tratar a informação adequadamente.

Já a base de dados deve ser mais difundida, para que os usuários (reais e potenciais) cheguem com mais facilidade as informações históricas armazenadas na base. Só assim todos poderão ter contato com os fatos reais da história dos afrodescendentes em Santa Catarina. Além do mais, deveria ampliar os serviços e produtos oferecidos através da biblioteca virtual, incluindo fontes bibliográficas das principais universidades brasileiras e base de dados on line das mais diversas áreas do conhecimento e por fim, ampliar os serviços e produtos também do principal mecanismo eletrônico do NEAB, o Portal Multiculturalismo. Que ele ofereça mais resumos de documentos históricos (já que existem bastantes), que seja feito um gerenciamento eletrônico dos mesmos, digitalizando-os, para que seja possível ao pesquisador o contato visual direto com o documento histórico original (além do que seria mais prático do que continuar utilizando o mesmo processo). Que tenha um boletim informativo eletrônico semestral que contenha informações sobre as atividades que são desenvolvidas no NEAB durante o semestre. Enfim, que ofereça registros de tudo que venha a fortalecer a história e memória dos afrodescendentes.

Portanto, fica mais que perceptível a importância da DSI no Memorial, para que continue existindo uma boa recuperação das informações que facilitem o alcance de fontes de informações sobre a temática aos usuários do Memorial atendendo imediatamente as suas necessidades, havendo a utilização de métodos de DSI mais eficazes, ou ainda, que os métodos já utilizados sejam aprimorados e com isso a permanência do fortalecimento da preservação da história e memória  afrodescendentes e multicultural.

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THE ANTONIETA DE BARROS MEMORIAL AS CHANNEL OF INFORMATION DIFFUSSION AND PRODUCTION

Abstract: Good part of the sources of information on the populations of African origin still meets for different quantities of Santa Catarina, something dispersed that makes it difficult and makes impracticable the work of the excessively interested researchers and in knowing aspects cultural, partner-economic and educational, the Antonieta de Barros Memoriall with try to maintain the afro descendants history and memory through actions. It relates history with the memory, strengthen it as history product that change everything therefore makes possible to the human been the ( un) building of identities of social groups.  Finally, the information diffusion  that uses ways that they search to take care of the necessities of the users with intention to allow to one better attendance aiming at an only result:  supply of the excellent information on thematic for production of the knowledge giving the continuity and fortifying the history and memory of the afro descendants in Santa Catarina and Brazil.

Keyword:  History and memory; Diffusion Information; Multiculturalism.
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Andréia Sousa da Silva

Bacharel em Biblioteconomia – Gestão da Informação (UDESC), Universidade do Estado de Santa Catarina.
E-mail: andreia.ssilva@gmail.com
 

Elaine Rosangela de Oliveira Lucas

Mestre em Engenharia de Produção (UFSC), Professora do Departamento de Biblioteconomia e Documentação da Universidade do Estado de Santa Catarina.
E-mail: lani@udesc.br
Artigo recebido em: 05/08/2005
Aceito para publicação em: 19/12/2005

Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.11, n.1, p. 83-96, jan./jul., 2006.