AVALIAÇÃO DE USO COMO INDICADOR PARA A GESTÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR: ESTUDO DE CASO¹

Eliane Fioravante Garcez

Resumo: Descreve a Biblioteca do Colégio Policial Militar Feliciano Nunes Pires (CFNP), localizada em Florianópolis. Tem como objetivo verificar se as necessidades de informação de seus usuários são atentidas. Trata-se de um estudo de caso de natureza qualitativa, com caráter descritivo. A coleta de dados foi realizada por meio da aplicação de dois questionários. Os resultados indicaram elevado percentual de uso da biblioteca. Entretanto, a maioria dos usuários está parcialmente satisfeita com os serviços oferecidos. A pesquisa oferece subsídios para que a gestão desta Biblioteca seja discutida e que seus serviços sejam melhorados.

Palavras-chave: Biblioteca escolar; Avaliação - uso; Biblioteca Escolar – Gestão.

 
1 INTRODUÇÃO

Sabe-se que as dificuldades enfrentadas para equipar a biblioteca escolar são significativas, e que a falta de recursos pode comprometer a qualidade dos serviços e produtos de qualquer segmento de uma instituição, mas é na biblioteca que se percebe que estes recursos  demoram a chegar.

Mas, será que a comunidade escolar tem sentido a falta de investimento na biblioteca da escola? Será que no cotidiano escolar os alunos têm sentido a falta da biblioteca como apoio às suas necessidades de informação? Como o professor vem utilizando a biblioteca da escola pública? Qual a relação existente entre a atuação do professor, e o uso e o não-uso que os alunos fazem da biblioteca escolar?

Buscando obter respostas a tais indagações procurou-se diagnosticar, por meio de estudo de caso, se a Biblioteca Cláudio Luciano Fernandes, do Colégio Policial Militar Feliciano Nunes Pires (CFNP), atende às necessidades de informação dos alunos e professores da Instituição, com o propósito de buscar indicadores para a gestão da referida biblioteca.

Como  objetivos específicos buscou-se: a) Conhecer as necessidades dos usuários; b) Identificar os tipos de materiais utilizados por alunos e professores; c) Averiguar se a coleção da biblioteca atende às necessidades dos usuários; d) Verificar como alunos e professores resolvem suas necessidades de leitura e de pesquisa; e) Verificar a freqüência de utilização da biblioteca; f) Diagnosticar as razões da utilização e da não-utilização da biblioteca; g) Levantar sugestões, junto aos usuários, a fim de melhorar os serviços oferecidos pela biblioteca.  

A Federação Internacional de Associações de Bibliotecários e Instituições (IFLA) e a Organização das Nacões Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura  (UNESCO), consideram fundamental o envolvimento do bibliotecário escolar, no sentido de que este possa diagnosticar e apontar alternativas para que os objetivos da biblioteca sejam alcançados, e expressam no Manifesto IFLA/UNESCO para Biblioteca Escolar (2005, p. 3) que “O bibliotecário escolar é o membro profissionalmente qualificado, responsável pelo planejamento e gestão da biblioteca escolar”.

De acordo com Dias e Belluzzo (2003, p. 65) gestão para bibliotecas ou para serviços de informação é o “conjunto de conceitos, princípios, métodos e técnicas utilizados na prática administrativa colocados em execução pela liderança de um serviço de informação [...] para atingir a missão e os objetivos fixados.”

1.1 Contextualização da instituição

O Colégio Policial Militar Feliciano Nunes Pires (CFNP) é uma instituição pública, subordinada ao Centro de Ensino da Polícia Militar e recebe apoio técnico-pedagógico da Secretaria de Estado da Educação e Inovação, tendo suas atividades iniciadas em 15 de março de 1984.

A instituição atende alunos a partir da 5ª série do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio, e possui atualmente 498 alunos, divididos em catorze turmas. O corpo docente é formado por 28 professores da grade curricular e 3 da grade extracurricular.

Para dar suporte ao ensino e à aprendizagem a Instituição conta com uma estrutura organizacional constituída por Corpo Diretivo, Corpo Técnico-pedagógico, Corpo Docente, Corpo Discente, Corpo Técnico-administrativo e Serviços Gerais.

A Biblioteca Cláudio Luciano Fernandes, instituída em 1985, encontra-se localizada no piso térreo, parte central da sede do Colégio. Possui fácil localização e visualização, fatores que favorecem o acesso.

A Biblioteca atende à comunidade escolar (alunos, professores, pais, funcionários) de segunda a sexta-feira das 7h30 às 18h, ininterruptamente.

O setor conta com duas profissionais bibliotecárias, uma por período, e esporadicamente com acadêmicos do Curso de Biblioteconomia da UFSC e da UDESC em estágio curricular  e não-curricular e por acadêmicos e alunos do ensino médio de escolas públicas, através do projeto “A PRIMEIRA CHANCE².

O acervo da biblioteca é constituído por livros de literatura, didáticos, paradidáticos, referência, além de periódicos, fitas VHS e cassete, CD e CD-ROM, gibis, recortes de jornais e revistas (Hemeroteca), sendo boa parte fruto de doação, principalmente de editoras.

As atividades culturais são exploradas por meio de exposições internas e externas, e da Campanha “Amigo da Biblioteca” e da Semana do Livro e da Biblioteca, sendo que estas últimas integram o calendário escolar.

A soma dos esforços da Direção e das bibliotecárias tem garantido, nesses eventos, a participação de escritores, profissionais bibliotecários, restauradores, livreiros, editores, instituições federais, estaduais e municipais.

2 METODOLOGIA

A presente pesquisa consiste em um estudo de caso de natureza qualitativa, com caráter descritivo.

Dentre os instrumentos de coleta de dados, optou-se pela aplicação de dois questionários, um para alunos e outro para professores.

Dos alunos, decidiu-se trabalhar com uma amostragem de 123, o que correspondeu a 24,70% do total de alunos da Instituição, sendo que, 70 pertencentes a duas turmas de 8ª série do Ensino Fundamental, e 53 a duas turmas de 3ª série do Ensino Médio.

A escolha das 8ªs e 3ªs séries, para o estudo deu-se pelo fato dessas representarem o final de dois ciclos de ensino, o fundamental e o médio, respectivamente. Mesmo integrando as turmas estudadas, a exclusão dos alunos que ingressaram na instituição em 2005 fez-se necessária para que esta pesquisa se concentrasse nos alunos que tiveram a oportunidade de freqüentar a biblioteca da escola pelo período mínimo de um ano, conferindo maior credibilidade às manifestações quanto ao uso e não-uso da mesma e à análise dos dados como um todo.

Do total de 123 questionários distribuídos aos alunos de 8ª série do Ensino Fundamental e 3ª série do Ensino Médio, 2 foram invalidados, representando 1,62%. A exclusão deu-se pelo fato de um ter sido entregue em branco e de outro ter apresentado ambigüidade nas respostas. Portanto, desse segmento, foram analisados 121 questionários: 68 dos 70 aplicados aos alunos de 8ª série, e 53, respondidos pela totalidade de alunos do 3º ano do ensino médio.

O estudo incluiu os 28 professores correspondendo à totalidade do corpo docente da grade curricular, por entender que suas práticas didático-pedagógicas interferem diretamente na freqüência, ou não, do aluno à biblioteca da escola.

2.1 A biblioteca escolar: considerações

Para Ribeiro (1994, p. 61, grifo nosso) a biblioteca escolar deve possibilitar “acesso à literatura e às informações para dar respostas e suscitar perguntas aos educandos, [...] como também de apoio informacional ao pessoal docente.”

O Manifesto IFLA/UNESCO para Biblioteca Escolar (2005, p. 2) defende que a escola através de sua biblioteca “[...] [ofereça] oportunidades de vivências destinadas à produção e uso da informação voltada ao conhecimento, à compreensão, imaginação e ao entretenimento [...].”

De acordo com Figueiredo (1979, p. 11, grifo nosso), no que tange à avaliação dos serviços de uma biblioteca “[...] uma parte que parece ser mais comumente avaliada é a coleção de livros e periódicos, provavelmente na suposição de que a coleção é a melhor evidência tangível do que acontece numa biblioteca e do que uma biblioteca é [...]."

As questões relacionadas ao desenvolvimento de coleções devem ser compartilhadas entre bibliotecário e professor, por meio do trabalho cooperativo, para que sejam coerentes com as necessidades de ensino-aprendizagem, com o perfil da instituição e adequados aos planos didáticos do professor.Entretanto, exige compromisso da direção, da Associação de Pais e Professores (APP) e demais membros da comunidade escolar para que haja garantia de recursos à sua aplicação.

A realidade da biblioteca escolar tem mostrado que a falta de recursos é fator decisivo para que a coleção vá se formando quase que exclusivamente por doações, o que, na maioria das vezes, têm comprometido a qualidade e afastado os leitores, quer pela baixa atratividade do material, quer pela inexpressiva relevância do mesmo.

O desenvolvimento de novas tecnologias e o acelerado crescimento da informação têm gerado nos usuários expectativas quanto ao acesso e à rapidez na obtenção de informações. O acesso ao acervo da biblioteca disponibilizado em base de dados e o acesso à Internet respondem a tais expectativas, mas não estão disponíveis à maioria dos estudantes.

A demora em estruturar a biblioteca com tais recursos e em disponibilizá-los à sua clientela, somados à falta de investimento em fontes impressas, contribuem  para que a aprendizagem se concentre no livro didático, no acervo pobre e desatualizado e na fala do professor. Na verdade, o que se defende é que o usuário da biblioteca escolar possa conviver com as mais variadas mídias, a fim de resolver questões relacionadas à informação e desenvolver competências e habilidades no manuseio dessas informações.

A localização e a ambiência são outros aspectos que se relacionam à qualificação dos serviços prestados pela biblioteca escolar, uma vez que ambos interferem na comodidade de usuários e funcionários.

Com relação ao ambiente externo, recomenda-se que a biblioteca esteja situada em local que favoreça a sua visualização. Deve ser ponto de referência dentro da unidade escolar, pois sendo vista, será lembrada e freqüentada.

Para Borba (2000, p. 42) “É importante que o local onde se realiza a troca de informações biblioteca seja agradável e convidativo [...].” Também há a necessidade de espaços próprios para acomodar acervo, usuários e funcionários.

Com relação ao espaço para os usuários, Douglas (1971, p. 82) lembrou que a sala de leitura deve contar com assentos suficientes para acomodar uma turma inteira “... 48 assentos, no mínimo para 300 alunos, 30 lugares suplementares para um efetivo superior a 500 alunos.”

Sem precisar explorar exaustivamente os aspectos aqui abordados, é possível imaginar as atribuições técnicas, administrativas e pedagógicas do profissional bibliotecário, e do compromisso e responsabilidade que a comunidade escolar tem para que a mesma seja um organismo sustentável e viável no processo de ensino-aprendizagem.

3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Os dados aqui apresentados e analisados constituem um diagnóstico acerca das necessidades de informação dos alunos e professores da Biblioteca do Colégio Policial Militar Feliciano Nunes Pires. Os resultados do estudo serão apresentados em dois segmentos distintos - corpos discente e docente. Com o objetivo de observar divergências e semelhanças de hábitos e opiniões dos alunos, relacionados à utilização da biblioteca, optou-se em fazer a tabulação dos dados, separadamente, por série.  

3.1 Corpo discente

Com o intuito de levantar o percentual de alunos que usam e de alunos que não usam a Biblioteca, no primeiro item do questionário procurou-se saber se o respondente é, ou não, usuário da Biblioteca. Dos 121 alunos pesquisados, 86,78% afirmaram utilizar a biblioteca e 13,22% informaram não ser usuários da Biblioteca. Pôde-se observar também que a maior concentração de usuários é de alunos das oitavas séries com, 94,12%.

Quanto aos motivos que os levam a freqüentar a Biblioteca da Escola, 23,51% dos alunos indicaram para fazer trabalhos, 21,25% para pesquisar, 19,55% para ler, 17% para fazer empréstimo e 16,43% para estudar. Houve 2,27% indicações para a opção outros, a saber: “Quando recebo indicação de um bom livro” (1), “Para conversar” (3), “Para fazer tarefas” (2) e “Para encontrar os colegas” (2).

As razões da não-utilização da Biblioteca foram expostas por 13,22% dos alunos (ver Tabela 1), os quais relacionaram o fato à utilização da Internet fora do ambiente escolar 20%; à falta de hábito em freqüentar bibliotecas 15%; à utilização de livros que possuem em casa 15%; ao espaço físico (pequeno) 11,67%; ao acervo desatualizado 11,67%; ao tamanho do acervo (pequeno) 11,67%; ao atendimento 5%; à utilização exclusiva dos livros didáticos das disciplinas 3,33%; e ao barulho 3,33%. Na opção outros 3,33% dos alunos justificaram: “Não gosto de ler e estudo em casa” e “O local não é convidativo”.

Tabela 1: Razões da não-utilização da Biblioteca pelos alunos

Fonte: Dados da pesquisa

Com relação à freqüência à Biblioteca da Escola, 37,19% dos alunos informou que a freqüência semanal; 25,62% diária; 8,26% quinzenal e 8,26% mensal. 5,79% dos alunos responderam não ter freqüência fixa e 14,88% não se manifestaram.

Quanto aos itens do acervo que sofrem maior demanda de uso, livro de literatura obteve 25,32% das ocorrências; material de referência (enciclopédias, almanaques, guias, dicionários, atlas, etc.) 24,05%; revistas 14,35%; livros didáticos 13,50%; gibis 8,44% e, jornais 7,59%, conforme pode-se observar na Tabela 2.

Tabela 2: Itens do acervo com maior demanda de uso 

Fonte: Dados da pesquisa

Na Tabela 3 é possível verificar quais as disciplinas da grade curricular que fortalecem a demanda de uso da Biblioteca. Das 11 disciplinas oferecidas aos alunos do ensino fundamental e 13 aos alunos do ensino médio, Geografia obteve 19,69% do número de ocorrências; História 18,75%; Religião 11,50%; Português 10,31%; Ciências 8,75%; Biologia 6,25%; IGPM 4,69%; Técnicas de Redação 4,06%; Química 3,13%; Educação Física 2,19%; Física 1,56%; Inglês 1,25%; Artes 0,94%; Matemática 0,94%; e Filosofia 0,31%. O percentual de alunos que não respondeu à questão foi de 5,63%.

Houve ausência de ocorrências em algumas disciplinas, com exceção das de Inglês e de Instrução Geral da Polícia Militar – IGPM, por não serem oferecidas ou no Ensino Fundamental ou no Ensino Médio.

Tabela 3: Relação das disciplinas à demanda de uso da Biblioteca

Fonte: Dados da pesquisa

Quando questionados se a Biblioteca tem respondido às suas necessidades de informação, 61,16% dos alunos respondentes assinalaram às vezes; 23,14%, sempre; 1,65%, nunca e 14,05% não responderam. Com base nestes percentuais é possível verificar que os alunos não estão satisfeitos com os serviços da biblioteca.

Quanto à disponibilidade de livros para fins escolares, no ambiente doméstico, 82,64% alunos responderam possuí-los e 17,36% responderam não possuí-los.

Apesar do grande número de respondentes possuírem livros em casa, foi possível constatar que tal fato não os impede de utilizar a Biblioteca da Escola, mostrando a importância do acervo desta Biblioteca na formação dos alunos.

Do total de respondentes, 25,62% utilizam serviços de bibliotecas fora da unidade escolar e 72,73% dos alunos manifestaram não utilizar outras bibliotecas, sendo que 1,65% dos alunos não responderam à questão.

Os 31 alunos que utilizam outras bibliotecas fora do ambiente escolar apresentaram 40 indicações para 5 bibliotecas: Biblioteca da UFSC 45%; Biblioteca Pública Estadual 25%; Biblioteca Pública Municipal  20%; Biblioteca Escolar (Municipal) 5%; e Biblioteca da Secretaria Estadual de Educação 5% das ocorrências, conforme mostra a Tabela 4.

Para os alunos do Colégio Militar, a Biblioteca da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC apresentou o maior percentual de utilização, e é possível que tal fato ocorra pela proximidade das duas instituições.

Tabela 4: Indicação das bibliotecas utilizadas fora da unidade escolar

Fonte: Dados da pesquisa

Quanto ao grau de utilização dos livros didáticos adotados pelas disciplinas, 43,80% informaram utilizam apenas estes livros e, 54,55%, informaram utilizar outros livros para resolver questões ligadas aos estudos. Dos 121 alunos pesquisados, 1,65% não se manifestaram.

Como forma de conhecer as expectativas dos alunos quanto à melhoria dos serviços oferecidos pela Biblioteca, as 198 sugestões apresentadas foram agrupadas pelas categorias: pessoal, espaço físico, acervo, organização, serviços, equipamentos e mobiliário. 

O item acervo (atualização, diversificação, aumento no número de exemplares) obteve 34,85% das ocorrências; equipamentos (impressora e computadores com acesso à Internet) 27,78%; espaço físico (ampliação, criação de espaços diferenciados para leitura, pesquisa, e para trabalhos de recorte e colagem) obteve 15,15%; pessoal (melhorar o atendimento, aumentar o número de funcionários e ser mais severo com os alunos que fazem barulho) obteve 7,58%; mobiliário (aumentar o número de mesas e cadeiras) 6,57%; serviços (aumentar o prazo de empréstimo, disponibilizar consulta ao acervo via Internet, incentivar o uso da biblioteca) 4,55%; e o item organização (facilidade de acesso ao acervo) obteve 3,54% de ocorrências.

Do total de 121 alunos, 7,44% não apresentaram sugestões.

Gráfico 1: Representação das sugestões apresentadas pelos alunos quanto à melhoria dos serviços da Biblioteca.

Fonte: Dados da pesquisa

3.2 Corpo docente

Diferentemente dos alunos, todos os professores foram incluídos na pesquisa. Do envio de 28 questionários, houve retorno de 75%. 

Quanto ao foco de ensino, 43% dos professores dedicam-se ao Ensino Médio, 19% ao Ensino Fundamental e 38% dedicam-se a ambos.

Outro aspecto que pôde ser observado é que 38% dos professores dedicam-se exclusivamente à atividade docente no Colégio Militar e 62% exercem atividade docente em outra instituição.

De acordo com o levantamento, 85,71% dos professores identificaram-se como usuários e 14,29% como não usuários da Biblioteca. Estes dados descrevem um quadro bastante diferente do levantado por Silva apud Silva, M. (2004, p. 16) e mostra  a importância do professor como agente de estímulo ao uso da Biblioteca. 

Quanto às razões de uso da biblioteca, pôde-se constatar, como  mostra a Tabela 5, que dos 18 professores que informaram utilizá-la, 30,2% responderam que a utilizam para fazer empréstimo de livros; 17% para trabalhar com os alunos; 15,1% para ler revistas; 11,3% para ler livros; 11,3% para fazer empréstimo de fitas VHS; 7,5% para fazer empréstimo de revistas e, 3,8%, para ler jornal.  A opção outros foi assinalada por 3,8% dos professores que indicaram:  “Tirar dúvidas com a bibliotecária” e “Selecionar livros para trabalhos dos alunos”.

Tabela 5: Razões da utilização da Biblioteca pelos professores

Fonte: Dados da pesquisa

As razões da não-utilização da Biblioteca (ver Tabela 6) por 14,29% dos professores, mostrou que 40% foi para utilização da Internet; 40% porque traz de casa o material que precisa; e, 20% por considerar o acervo da biblioteca insuficiente.

Tabela 6 - Razões da não-utilização da biblioteca pelos professores

Fonte: Dados da pesquisa

A integração do professor com a Biblioteca também foi levantada na pesquisa, sendo que 57,14% dos professores afirmaram trabalhar de forma integrada. Entretanto, 42,86% responderam negativamente, apresentando como justificativas: indica bibliografias complementares aos alunos, com 90%, e não tem tempo de passar na biblioteca; com 1%.

Os mesmos percentuais foram obtidos quanto à apresentação de sugestões para aquisição de novos materiais para a Biblioteca da Instituição, em que 57,14% dos professores responderam sim e 42,86% responderam não. 

Abaixo constam as justificativas apresentadas por 57,14% dos professores quanto à importância de sugerirem novos materiais para aquisição.

a)      Pela falta de literatura específica na área;

b)      Há uma sincronia entre a biblioteca e a disciplina, pois a bibliotecária preocupa-se em atualizar o acervo;

c)       Para facilitar aos alunos o acesso à leitura de livros e revistas sugeridas;

d)      Inovar é sempre preciso. Há sempre obras consagradas (clássicas e contemporâneas) que precisam estar no acervo de nossas bibliotecas. Muitas são específicas do vestibular e, às vezes, não são encontradas na biblioteca da escola;

e)       Em comum acordo com a bibliotecária, o acervo da disciplina é renovado e atualizado;

f)        Geralmente livros, principalmente os indicados para o vestibular;

g)      Para atualização e para atender às necessidades dos alunos, principalmente os dos 3ºs anos;

h)      Para que a biblioteca seja um ambiente bem equipado para apoiar o professor em sua prática didática;

i)        Indico quando percebo que a biblioteca não tem alguma obra que julgo interessante para professores e alunos;

j)        Acredito que a renovação da leitura é fator gerador de conhecimento;

k)      Para melhoria do material de pesquisa para os alunos;

l)        Quando considero o livro de suma importância para os alunos, indico a compra.

Para os 42,86% dos professores que responderam não ter o hábito de indicar livros e outros materiais para aquisição, 2 não justificaram suas respostas e 7 expuseram suas razões. Assim, seguem as respostas abaixo:

a)      Tenho informação que [a biblioteca]não tem dinheiro para comprar livros;

b)      Trabalho de maneira a buscar livros já existentes no acervo da biblioteca;

c)       Os livros que em geral são necessários para as pesquisas estão disponíveis na biblioteca, apesar de o número de exemplares ser reduzido;

d)      Não sabia que podia fazê-lo;

e)       Por total falta de tempo de conversar com a bibliotecária e conhecer o acervo;

f)        Por achar que fica a cargo da bibliotecária;

g)      Faço doação de muitos livros de editoras no final do ano.

Quanto ao hábito de levar os alunos à Biblioteca, 19,05% dos professores responderam tê-lo e 80,95% responderam negativamente.

Dos 19,05% professores que informaram ter o hábito de acompanhar os alunos à Biblioteca, 1 não apresentou justificativa e 3 apresentaram justificativas, registradas abaixo:

a)      Para orientá-los nos trabalhos escolares;

b)      Os alunos precisam conhecer os diferentes gêneros textuais para produzir seus textos e percebo que eles lêem muito pouco no seu cotidiano;

c)       É importante o contato com os livros e o ambiente de leitura.

Dos 80,95% dos professores que responderam não acompanhar os alunos à Biblioteca da Escola, 4 não apresentaram justificativa e 13 justificaram suas respostas, as quais estão registradas a seguir:

a)      Devido ao espaço ser muito pequeno. Não é possível trabalhar na biblioteca com todos os alunos;

b)      Em alguns momentos atrapalha, e na biblioteca não considero o local ideal;

c)    O espaço é pequeno, e se perderia muito tempo com a locomoção dos alunos, além de atrapalhar a aula posterior com a sua chegada tardia. Não há espaço físico suficiente para comportar quase 40 alunos. Acredito que uma das principais funções da biblioteca do Colégio é servir de fonte de pesquisa para os alunos;

d)      Porque não têm livros que possam usar (livros da área);

e)       Levá-los não, mas de acordo com os trabalhos pedidos, são solicitados a procurar materiais da biblioteca;

f)        Realizo os trabalhos em sala ou em casa;

g)      Não conheço o acervo relacionado à minha disciplina, portanto, não preparo atividades que envolvam a biblioteca;

h)      O espaço da biblioteca é pequeno para uma turma inteira;

i)        Acredito que o espaço da biblioteca não é adequado para atividades com muitos alunos.

j)        Pouco tempo, por oferecer somente uma aula por semana;

k)       Não há espaço físico [suficiente];

l)    O deslocamento dos alunos muitas vezes acaba diminuindo o tempo necessário para elaboração da atividade e a quantidade de alunos pode atrapalhar os outros usuários;

m)     Falta de tempo na grade curricular.

Ao serem questionados se costumam indicar aos alunos bibliografia complementar ao conteúdo do livro didático adotado para a disciplina, 71,43% professores responderam sim e 28,57% dos professores responderam não.

Quanto às sugestões para a melhoria dos serviços oferecidos pela Biblioteca, 76,19% dos professores manifestaram-se e 23,81% deixaram de fazê-lo.

Para melhor visualizar as 52 sugestões apresentadas e verificar as mais relevantes, sob o ponto de vista do professor, optou-se em agrupá-las por categorias: espaço físico, acervo, equipamentos e serviços.

 Constatou-se 44,23% das ocorrências para acervo (diversificação e ampliação do acervo com a aquisição de jornais, revistas, vídeos, mapas, DVD e VHS, disponibilizar o acervo via internet, viabilizar o acesso à internet); 42,31% para espaço físico (ampliação do espaço, criação de salas para leitura, pesquisa, recortes, e vídeo e DVD); 9,62% para serviços (informatizar a biblioteca, disponibilizar acesso à internet e trabalhar a hora do conto); e 3,85% para equipamentos (disponibilizar computadores aos alunos e com leitores de CR-ROM). Para uma melhor compreensão das necessidades, expectativas e prioridades dos professores do Colégio Militar Feliciano Nunes Pires quanto à melhoria dos serviços oferecidos pela Biblioteca, optou-se em agrupá-las por categorias, as quais se encontram no Gráfico 2.

Gráfico 2 - Representação das sugestões apresentadas pelos professores quanto à melhoria dos serviços da biblioteca.

Fonte: Dados da pesquisa

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo aponta para o uso significativo da Biblioteca do CFNP. O resultado da análise dos dados coletados respondeu às indagações feitas no transcorrer do trabalho, permitindo comprovar o que o Bibliotecário vem constatando na sua prática profissional: os alunos têm sentido a falta da Biblioteca como apoio às suas necessidades de informação; a comunidade escolar tem percebido a falta de investimentos na Biblioteca pelo pouco espaço existente, pelo acervo pequeno e desatualizado e pela falta de acesso à Internet; os fatores da não-utilização da biblioteca por parte dos professores se resumem na falta de tempo; a coleção da Biblioteca não tem correspondido em qualidade e quantidade às necessidades dos usuários; a existência da Biblioteca e do Bibliotecário não tem sido suficientes para garantir a satisfação dos usuários que utilizam seus serviços; é preciso investir neste espaço; o usuário tem procurado outras bibliotecas para superar as lacunas apresentadas pela Biblioteca da Escola, porém não se sabe se isso tem solucionado suas questões, pois é grande a freqüência dos usuários à biblioteca da escola, portanto Biblioteca e Bibliotecário são os responsáveis pelo elevado índice de freqüência dos usuários àquele espaço.

Ao cruzar as informações e sugestões dos alunos com as fornecidas pelos professores quanto à melhoria dos serviços da Biblioteca, pôde-se perceber que o item acervo é preocupação comum aos dois segmentos, ressaltando a importância da atualização e implementação da coleção, garantindo o acesso dos usuários às informações, inclusive às viabilizadas pelas novas mídias.

Levando em conta o universo de alunos pesquisados, pode-se concluir que os estudantes estão conscientes do papel da biblioteca escolar, fato que pode ser constatado nas sugestões apresentadas quanto à melhoria do espaço físico, acervo, serviços, equipamentos, pessoal, organização e mobiliário.

Do levantamento efetuado com os professores, um dado bastante relevante foi quanto ao uso da Biblioteca, ainda que a maioria atue em outra instituição, e tenha carga horária de trabalho elevada. Observou-se, ainda, que 90% desses professores indica bibliografia complementar aos alunos como forma de ampliar as informações abordadas no livro didático.

As razões da utilização e da não-utilização da Biblioteca da Escola são indicativos para que a Direção e a APP da Instituição se preocupem em disponibilizar recursos para a ampliação do espaço físico, aquisição de equipamentos de informática, melhoria da infraestrutura e qualificação e quantificação do acervo da biblioteca.

NOTAS

1 Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Gestão de Bibliotecas da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC - (Florianópolis), em 2005.

2 O programa de estágio "A PRIMEIRA CHANCE" tem como objetivo assegurar ao estudante de ensino médio, educação profissional e superior, a primeira oportunidade de trabalho por meio da aplicação prática dos conhecimentos teóricos inerentes a sua área de formação. A Instrução Normativa SEA/DIRH 05/99 estabeleceu normas e procedimentos para a operacionalização do programa.

REFERÊNCIAS

BORBA, M. S. de A. Adolescência e leitura: a contribuição da escola e da biblioteca escolar. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA, DOCUMENTAÇÃO E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 19., 2000, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: Associação Riograndense de Bibliotecários, 2000. 1 CD-ROM.

DIAS, M. M. K.; BELLUZZO, R. C. B. Gestão da informação em ciência e tecnologia sob a ótica do cliente. Bauru (SP): EDUSC, 2003. 184 p.

DOUGLAS, M. P. A biblioteca da escola primária e suas funções. Rio de Janeiro: INL, 1971. 118 p.

FIGUEIREDO, N. de M. Avaliação de coleções e estudo de usuários. Brasília: ABDF, 1979. 96 p.

MANIFESTO IFLA/UNESCO PARA BIBLIOTECA ESCOLAR. Traduzido por Neusa Dias de Macedo. Disponível em: < http://www.ifla.org/VII/s11/pubs/portuguese-brazil.pdf> Acesso em: 25 set. 2005.

RIBEIRO, M. S. P. Desenvolvimento de coleção na biblioteca escolar: uma contribuição à formação crítica sócio-cultural do educando. Trans-informação, São Paulo, v.6, n.1/2/3, p. 60-73, jan./dez. 1994.

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 USE EVALUATION AS INDICATOR FOR  SCHOOL LIBRARY MANAGEMENT: case study

Abstract: Describe the school library from the Colégio Policial Militar Feliciano Nunes Pires (CFNP), located in Florianópolis. The objective was verifying if the users information needs are contemplate. Case study descriptive with qualitative nature. Two questionnaires are used to data collection. The results indicated high percentage of library use, however the users are partially satisfied with those services. The research gives some subsidies for the library management to be argued and to improve some services.

Keywords: School library; Use evaluation; School library - Management.

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Eliane Fioravante Garcez

Bibliotecária, CRB-14/238, Especialista em Gestão da Informação – UFSC

Especialista em Gestão de Bibliotecas – UDESC

E-mail: efgarcez@ig.com.br

Artigo recebido em: 29/08/2006

Aceito para publicação em: 15/12/2006

Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.12, n.1, p. 59-73, jan./jun., 2007.